Só que aconteceu uma crise internacional e vários países viram a corda esticar. Pediram-se resgates urgentes e a Grécia ficou debaixo de água. O desespero de uma parte da população levou ao poder o Syriza, conhecemos a história – a alguém desesperado não se pode dizer que não tente ir por outra rua. Foi o erro de base, a Europa permitiu que um dos seus Estados-membros entrasse em desespero. O erro permitiu que as pessoas usassem o voto para escolher a espada. Voltarei um dia ao assunto.
A segunda palavra para um aspecto decisivo e pouco focado. O resultado das eleições legislativas portuguesas dependerá do que acontecer nos próximos dias na Europa. Não é por acaso que Passos insiste num discurso de oposição frontal aos gregos. A possibilidade de a estratégia de Tsipras mergulhar o seu país num mar de miséria e instabilidade, será a pedra de toque para dar o golpe fatal a António Costa. Se a União Europeia abandonar a Grécia, o primeiro-ministro português afirmará solenemente o quanto lamenta e o quanto está convencido de que os portugueses, com toda esta história, já terem percebido que o país não poderá voltar a embarcar numa aventura que apenas trará destruição. Se a Grécia for abandonada à sua sorte, Passos Coelho ganhará as eleições.
Se acontecer o contrário e os gregos respirarem com um acordo de última hora, se provarem que é possível (tendo novas ideias e lutando por elas), bater o pé à austeridade e a uma Europa desigual, então Costa poderá dizer que embora Portugal não seja a Grécia, deve ver no exemplo grego a força de que toda a Europa precisa para agora iniciar uma nova política alicerçada mais no crescimento do que no desemprego, mais na soma de todos e menos no poder da Alemanha e dos credores. Se Tsipras levar a sua avante, António Costa ganhará as próximas eleições.
Nunca a Grécia teve uma influência tão directa na vida portuguesa. Se mo tivessem dito há um par de anos, suspeitaria que nos programas do ensino secundário tivesse crescido o poder da filosofia e dos filósofos atenienses. Aplaudiria o regresso de Aristóteles, Platão e Sócrates, mestres que ajudariam os nossos jovens a escolher com sabedoria e ponderação racional. Afinal, não. Afinal, é apenas a história em exercícios que nos ferem a nossa pequena capacidade de imaginar.
Crónica originalmente publicada na edição em papel do SOL de 10/07/2015