“O 'não' no referendo é um passo decisivo para um acordo melhor”, proclamava Tsipras. Sabendo que o 'não' significava precisamente o contrário: a recusa liminar à proposta do Eurogrupo e o corte quase definitivo das últimas pontes de entendimento. “Após a vitória do 'não' será possível um acordo com os credores em 24 horas”, assegurava Varoufakis. Era mais uma fantasia. Em 24 horas, como ele estava farto de saber, apenas se resolveria a sua própria e conveniente demissão do Governo grego. “O 'não' será um 'não' à chantagem da austeridade”, insistia Tsipras nos comícios. Tendo a absoluta certeza de que a austeridade irá continuar, inevitavelmente, na Grécia, nos próximos anos, com ou sem referendo, com o 'sim' ou com o 'não'.
Depois de terem andado cinco meses, de Fevereiro a Julho, a dissimular posições, a ensaiar enganosas vias de negociação, a encanar a perna à rã junto dos seus estupefactos parceiros europeus – com propostas adiadas, reformuladas, corrigidas, retiradas, atrasadas, etc., em sucessivas reuniões do Eurogrupo e cimeiras europeias – Tsipras e Varoufakis aplicaram a mesma receita ao eleitorado grego na campanha para o referendo: argumentos mistificadores e demagógicos, promessas falsas e incumpríveis, o anúncio do paraíso à porta do inferno.
Só podia dar mau resultado. Como diz o aforismo, podem enganar-se todos durante algum tempo, é possível enganar alguns durante todo o tempo, mas não se consegue enganar todos durante todo o tempo. Nos dias a seguir à eufórica ilusão do referendo de domingo, os gregos começaram a despertar para a dura realidade. Bancos ainda fechados, levantamentos mínimos nos multibancos, terceiro resgate a caminho, austeridade mais severa no horizonte.
O referendo apenas serviu para reduzir margens de entendimento, para extremar divergências, para tornar tudo mais difícil. E muito pior.
Crónica originalmente publicada na edição em papel do SOL de 10/07/2015