A intenção, explica em entrevista ao SOL, é ter um complexo semelhante ao Cumbuco (em Fortaleza) e ao Marés (Bahia), com cerca de 500 quartos, quatro restaurantes, quatro bares e 350 metros de frente-mar. “Queremos entregar o projecto até ao final de Agosto. Nesta zona há hotéis em cima da praia, mas não há resorts com a dimensão dos nossos”, diz Jorge Rebelo de Almeida, que prevê iniciar a construção em “meados de 2016”, a qual demorará 20 meses.
Esta será a oitava unidade hoteleira do Vila Galé no Brasil, onde mais de 90% dos seus clientes são brasileiros, representando 45% da facturação. “O Brasil tem altos e baixos. Está a atravessar uma onda menos boa”, de “desassossego político”, mas “continuo a acreditar naquele país”, assume.
A desvalorização do real tem levado os brasileiros a optar mais pelo turismo interno do que por viagens ao estrangeiro, daí que os resorts do grupo continuem com boa procura. No próximo ano, concluirá também o VG Sun, empreendimento de 354 apartamentos com serviço hoteleiro ligado ao resort do Cumbuco. E em Brasília, a empresa – que em Dezembro inaugurou uma unidade no Rio de Janeiro – aguarda o resultado do concurso para gerir um hotel.
A nível internacional, Moçambique e Cabo Verde são outras geografias no radar do grupo, que também se candidatou à exploração de unidades em Cuba, mas acabaria por perder a corrida.
Nova estrutura accionista
Depois de abrir três hotéis em pouco mais de seis meses – além do Rio de Janeiro, estreou-se em Évora, em Abril, e no Douro, em Junho -, o Vila Galé está também a investir em Portugal.
Acaba de comprar os 10% que a Caixa Capital (capital de risco da Caixa Geral de Depósitos) tinha no grupo há seis anos, por 33 milhões de euros. A estrutura accionista fica assim composta por Jorge Rebelo de Almeida (51,5%), José Lavrador e Maria Helena Jorge, ambos com quase 19,3%. E 10% são acções próprias.
“Sempre tivemos um crescimento sustentado. Nunca demos passos maiores do que as pernas, apesar de nos terem aparecido algumas oportunidades para comprar”, analisa o presidente. “Dá mais gozo ir produzindo novos produtos e introduzindo melhorias resultantes da nossa experiência”.
Por isso, o Vila Galé está a desenvolver novos conceitos. No Cais das Pedras, na Ribeira do Porto, comprou quatro imóveis e aguarda luz verde da autarquia para os reabilitar e transformar num hotel boutique com 82 quartos. Com um investimento de sete milhões, terá “uma concepção simplificada, sem restaurante, porque há muita oferta na zona, mas com um bar de tapas e petiscos e animação cultural”.
Turismo equestre e de saúde
Já em Sintra, onde o grupo espera há anos para avançar na Quinta da Várzea, a ambição é agora ter “um cinco estrelas que será a primeira unidade com uma vertente de medicina preventiva” – focado na procura estrangeira, com programas anti-stresse e de educação alimentar, check-ups, consultas estéticas e dentárias. O projecto de arquitectura já foi aprovado e a expectativa é que as obras comecem para o ano.
Além do turismo de saúde, Jorge Rebelo de Almeida tem defendido a aposta em nichos e produtos turísticos que complementem a oferta nacional. Acredita que essa será a estratégia para levar os turistas a fazer circuitos pelo país em vez de ficarem apenas numa cidade. E que só dessa forma se conseguirá combater a sazonalidade e ajudar os hotéis no interior, os mais problemáticos em termos de rentabilidade.
“Qualquer dia os turistas vêm cá para ver o quê, se não vêem uma realidade local? Vêem só um produto turístico? Isso é perigoso. No Algarve e na Madeira, fazem falta outras actividades económicas”, nota.
Nos últimos tempos, por exemplo, Jorge Rebelo de Almeida tem estudado o turismo equestre, e visitado coudelarias, como a de Alter. E admite haver “condições para desenvolver um projecto turístico” nessa área. Insiste também na “criação comboios históricos, com locomotivas antigas e cheios de estórias”, que atravessem o Alentejo até ao Algarve, mas também que subam o Tejo e no Douro. Ter produtos associados à língua portuguesa e aos Descobrimentos são outras sugestões. “Se queremos sustentar este turismo, temos de ter histórias para contar. Ajudam muito a vender os produtos”.
Turistas a mais? Nunca
Face ao aumento da oferta hoteleira no país – 87% em 10 anos (“um número que até a mim, que sou do sector, me surpreende”, diz) -, acrescida da expansão dos hostels e do alojamento local, o hoteleiro reitera que “nunca há turistas a mais”, uma questão que tem sido levantada em torno da capacidade de cidades como Lisboa para acolher os visitantes.
“Os preços em Lisboa e no Algarve continuam baratos. Precisamos que exista esta pressão enorme da procura para conseguirmos melhorar o preço”, remata.