A diva angolana

Considerada a melhor voz feminina em Angola – em 2000, 2006 e 2007 – ‘Diva do Ano’, grande vencedora do ‘Top dos Mais Queridos’ e dos Angola Music Awards – só este ano levou para casa quatro galardões -, Yola Semedo escolheu Portugal para dar início à tournée de celebração dos seus 30 anos de…

Mas em palco vai estar mais do que uma Semedo. Três dos irmãos de Yola – são nove – fazem parte da banda residente da cantora. Uma ligação que vem desde que eram crianças e ensaiavam juntos. “O meu pai, que era professor de música, distribuiu cada filho por cada instrumento. Tenho uma irmã que é hoje a minha viola baixo, o meu baterista é meu irmão, e na guitarra solo e ritmo também é outro irmão. Claro que eu não queira muito tocar piano nem queria estar ligada à música porque o que eu queria mesmo era andar na rua a brincar. Mas hoje agradeço a Deus a oportunidade que me deu e a verdade é que não vivo sem música”. A cantora confessa que era uma maria-rapaz assumida, que gostava de jogar futebol e um dia ser astronauta ou pilotar um avião Mig. “A primeira vez que fui chamada para um ensaio estava a jogar futebol e numa luta com um rapaz. Acho que foi por causa disso que o meu pai me foi buscar e disse: ‘Ok. Tenho que arranjar uma forma de acalmar esta rapariga!’. Pegou numa guitarra e começou a ensinar-me aquela que seria a minha primeira música, intitulada, ‘A Minha Boneca’”. Yola tinha sete anos. Por isso, não é de estranhar que esteja hoje, aos 37 anos, a celebrar as três décadas de uma vida a cantar.

Desde cedo, com os irmãos, integrou a banda Impactos e percorreu vários países como embaixadora da música angolana. Depois, aos 12 anos mudou-se com a família para a Namíbia onde continuou a actuar em festivais de música que juntaram os Semedos a nomes como Salif Keita, Stevie Wonder e até Michael Jackson no mesmo cartaz. “Tinha 14 anos e estava completamente deslumbrada! A emoção foi tão grande que vai ficar para sempre na minha memória”, conta.

O regresso a Luanda deu-se finalmente em 2005. Um regresso que a marcou profundamente por estar a regressar à sua terra-mãe, agora em paz. “Senti orgulho e um bocadinho de medo. Por ter crescido na guerra, pensava que provavelmente ia morrer nas mesmas circunstâncias. Mas voltei a uma Angola onde havia liberdade e onde ninguém tinha que se preocupar em sair de Luanda para Benguela e ser atacado no meio do caminho. Vejo essa liberdade toda a acontecer muito depressa e, às vezes, acho que não estamos preparados mentalmente para acompanhar esse desenvolvimento”.

Nestes 10 anos lançou Alma Minha (2010), Diário de Memórias (2011) e o mais recente Filho Meu (2014), depois de ter sido mãe. Mas o que mais a marca neste regresso a Angola é o facto da sua música estar totalmente implementada no seu país. “Por causa da guerra era mais fácil levar a minha música aos quatro cantos do mundo, do que aos quatro cantos de Angola”. Mas é pelos quatro cantos do mundo que vai agora celebrar estes 30 anos de carreira. Depois de Portugal, a cantora segue para Moçambique e daí para a Namíbia. Quanto ao grande concerto em Luanda, só deverá acontecer lá para Setembro ou Outubro. 

patricia.cintra@sol.pt