Iker. Bem-vindo à Invicta

Amulher, a mediática jornalista de televisão Sara Carbonero, esteve hesitante em acompanhá-lo, a mãe classificou o FC Porto como “equipa da segunda divisão B” e a desvinculação do Real Madrid esteve tremida por mais do que uma vez.

A verdade é que Iker Casillas já é jogador do FC Porto e o protagonista daquela que é, provavelmente, a contratação mais sonante de sempre no futebol português. O salário é o mais alto que alguma vez um futebolista auferiu em Portugal – o FC Porto vai pagar-lhe cinco milhões de euros por época –, mas há também o reverso da medalha. A transferência foi notícia em mais de uma centena de países e fez do FC Porto o primeiro clube português a ultrapassar a barreira dos três milhões de seguidores no Facebook.

Falta conhecer o desempenho em campo, que será determinante para determinar se o golpe de marketing é um golpe de génio também em termos desportivos. Num roteiro por sítios emblemáticos no Porto – que a cara-metade de Casillas pode aproveitar para desfazer as suas dúvidas –, o SOLouviu os adeptos darem as boas-vindas ao guarda-redes e prometer-lhe todo o apoio para que aos 34 anos se sinta cada vez mais portista e possa recuperar o estatuto perdido de um dos melhores do mundo entre os postes.

Há quem não esteja convencido desta aposta mediática de Pinto da Costa, mas pela cidade não faltam devotos de San Iker, o novo protector das redes do Dragão.

Mercado do Bolhão

Faltou apoio da mãe

No mercado o coração da cidade palpita e o fervor clubista também. Que o diga a Bininha do Bolhão, portista de sangue na guelra, que sai da banca de peixe para comentar a contratação do momento. “É ridículo a mãe dele dizer que o FC Porto é uma equipa da Segunda Divisão B… Mesmo que fosse verdade e que o filho fosse para um clube fraco, como mãe, ela só tinha de lhe dar apoio. Deve estar habituada aos milhões do Real Madrid, mas aqui também se tem prestígio. O FC Porto também faz boa figura na Europa”, exclama Albina Ferreira, peixeira de 64 anos, deixando a garantia a toda a família Casillas: “Ele vem para uma terra de gente boa e para um clube grande a nível europeu. Para nós também é um orgulho. O FC Porto tem mesmo de ser um grande para fazer uma contratação destas”.

Clérigos – Casa Oriental

‘Vem com raiva’

Ali mesmo ao lado da Torre dos Clérigos fica a Casa Oriental, uma mercearia icónica do Porto, propriedade de José Gama, portista que até já fez parte de um documentário sobre o clube para o Porto Canal. Para ele, apesar das dúvidas iniciais de Sara Carbonero em mudar-se para a Invicta, Casillas é uma “atracção internacional” e tem tudo para se adaptar à cidade e ao clube: “Pode vir cá escolher umas garrafas de vinho do Porto. Tem de comer umas tripas e um bacalhauzinho. Ele é maior e vacinado e não precisa de conselhos, mas acho que fez a opção certa em vir para o FC Porto. Aqui vai ser bem tratado, está próximo de casa e vai continuar a jogar e a ganhar um bom salário. Não acredito que se acomode, por já ter vencido tudo. Vai ter os adeptos com ele para o motivar e acredito que vem com aquela raiva de provar que ainda é um grande guarda-redes”.

Estádio do Dragão

Conselhos para Sara

Por estes dias, a camisola de Iker Casillas chegou a vender 80 unidades por hora na loja oficial do clube. A escassos metros, nas imediações do estádio, fica uma banca que vende artigos da claque Super Dragões e camisolas do FC Porto de épocas anteriores. Júlia Bessa, avó de Fernando Madureira, líder da claque portista, está à frente da banca dos ‘Super’ e mostra estar a par de tudo o que é notícia sobre o novo craque, incluindo as últimas sobre a mediática namorada Sara Carbonero, a quem já dá conselhos: “Ela já pediu licença à Telecinco para poder vir viver com ele e com o filho para o Porto e isso vai ser importante na adaptação. Podem ir viver ali para os lados da Boavista ou da Foz, que há boas casas. E se ela quiser ir às compras também temos por cá coisas boas e caras,  como em Espanha. Se achar melhor, até se pode meter no carro ou no comboio e ir dar uma volta a Lisboa”.

RUA DE SANTA CATARINA

‘Dinheiro mal gasto’, diz sportinguista

Rui Paredes – cujo falecido pai era primo do guitarrista Carlos Paredes – é sportinguista e talvez por isso mais céptico dos benefícios que a contratação de Casillas poderá trazer para o FC Porto.

“Não precisavam de gastar tanto dinheiro num salário. Aliás, acho que isso pode até causar problemas no balneário. Há jogadores que podem não ver com bons olhos um colega de equipa que ganha, no mínimo, o dobro ou o triplo”, refere este vendedor ambulante de artesanato na movimentada Rua de Santa Catarina, principal artéria comercial da cidade. E deixa outro alerta: “Não é uma novidade isto de o Casillas causar problemas no balneário. Veja-se o que aconteceu com o Mourinho, quando decidiu deixá-lo no banco. Acho que foi dinheiro mal gasto, mas para o meu Sporting até pode ser bom”.

SÉ – Tasco Alfredo Portista

Recuperar confiança perdida com Mourinho

É um dos tascos (versão portuense para ‘tasca’) mais conhecidos da cidade e um ponto de encontro para alguns ‘azuis e brancos’ dos quatro costados. Apesar das reticências iniciais, no Alfredo Portista, onde os posters de equipas históricas forram as paredes, Casillas já está aprovado, garante Paulo Tavares, filho do dono: “Embora haja muita gente que goste do Hélton, é preciso ver que já tem 37 anos e é bom que haja concorrência forte entre os dois. O Casillas traz muita visibilidade para o FC Porto, mas isto não é só marketing. Em termos desportivos ele tem provas dadas e, depois da fase pior desde que se cruzou com o Mourinho, pode ganhar de novo confiança com o apoio dos adeptos. Aqui não terá a pressão psicológica que vivia nos últimos tempos no Real Madrid. Quem sabe nunca esquece”.

Aliados – Café Guarany

Fãs, imprensa e talvez patrocínios

Ciro Guimarães é portista, mas também do Real Madrid porque é lá que joga Cristiano Ronaldo, o seu grande ídolo no futebol actual. O mesmo pode passar-se no sentido inverso com os fãs de Casillas, admite este empregado de mesa do Guarany, histórico café em plena Avenida dos Aliados: “Pelo valor que ele vai receber, se calhar contratávamos um avançado de peso e pagávamos-lhe um salário mais alto. Mas não há dúvidas de que Casillas traz, além da atenção de muitos fãs e da imprensa espanhola, muita qualidade ao plantel. E também pode ajudar a trazer patrocínios. Não acho um acaso que ele faça publicidade à Samsung em Espanha e que essa marca tenha sido falada para patrocinar as camisolas do FC Porto”.

Rua de Sá da Bandeira

Na sorte grande

“A Santa Casa devia pôr umas cautelas com a cara do Casillas, a ver se vendo mais algumas. Já que põem padres e santos nas cautelas, também podiam pôr jogadores de futebol. Com os espanhóis que passam por aqui até podia ter sucesso”, diz bem humorado Manuel Bonifácio, cauteleiro resistente na Rua de Sá da Bandeira, na Baixa do Porto, que durante anos vendeu a sorte também no Estádio das Antas e depois no Dragão (“até que um diretor do clube decidiu implicar”).

“Já que ele foi corrido do Real Madrid, que dê aqui um ar da sua graça para mostrar que ainda está cá para o que der e vier”, diz este ex-sócio portista, que sobre o número escolhido para a camisola tinha outra sugestão: “Ele escolheu o 12, mas o melhor era o 13. É o número da sorte de muita gente”.

Ribeira

Um chamariz para espanhóis

Manuel Rocha, mestre de um dos muitos barcos rabelos que diariamente transportam magotes de turistas no cruzeiro sob as pontes do Douro, considera que Casillas é um chamariz, sobretudo, para os seus compatriotas, que vão passar a estar mais atentos à realidade do clube azul e branco.

“Aqui lidamos diariamente com muitos espanhóis e a maneira como eles nos últimos dias falam do futebol português é com respeito e curiosidade. Ficamos a ganhar e ele também, porque aqui temos uma maneira especial de receber as pessoas. A mulher dele, diga-se o que se disser, vai certamente sentir-se bem por cá e nós também queremos do nosso lado meninas bonitas como ela”, diz o mestre, acrescentando que a nova atracção serve também para muitos adeptos portistas irem mais vezes ao estádio, como é o seu caso: “Mal possa vou ao Dragão ver o Casillas ao vivo com as cores do meu clube”.