No documento, denominado "Queimaram Tudo", a organização de defesa dos direitos humanos baseia-se em entrevistas feitas a "174 vítimas e testemunhas dos acontecimentos em Unity, estado do norte do país.
O documento contém alegações das atrocidades cometidas pelas forças militares governamentais no decorrer do 19.º mês da guerra civil, as quais documentam "os deliberados ataques sobre civis e que constituem crimes de guerra".
Os ataques foram alegadamente perpetrados pelas tropas do Governo e por uma milícia aliada, da tribo Bul Nuer — a segunda maior tribo do Sudão do Sul.
"Eles perseguiam as pessoas com os tanques e, depois de as atingir, invertiam a marcha para confirmarem que as tinham matado", disse à HRW uma testemunha.
Os corpos esmagados de dois homens foram encontrados por familiares destes, refere ainda o documento.
Uma mulher, na casa dos 30 anos, testemunhou também à mesma organização ter visto o sobrinho ser "perseguido e esmagado por um tanque antes de conseguir chegar ao rio".
Na tentativa de escapar, os civis fugiram para os pântanos, mas as tropas perseguiram-nos com veículos anfíbios armados, cujas metralhadoras destruíram todos os esconderijos possíveis.
"[As pessoas] foram perseguidas como gado", segundo o testemunho de uma mulher do distrito de Koch, do estado de Unity.
O relatório dá ainda conta de 63 casos de violação, salientando, no entanto, que a HRW acredita que este número é apenas parcial.
A guerra civil do Sudão do Sul deflagrou em dezembro de 2013 quando o Presidente Salva Kiir acusou o seu anterior vice-presidente, Riek Machar, de ter planeado um golpe de Estado.
A acusação originou um ciclo de represálias e assassínios que dividiu este país entre grupos étnicos rivais.
No passado dia 09 de julho, o Sudão do Sul completou quatro anos de independência, depois da sua cisão do Sudão, encontrando-se devastado após um ano e meio de conflitos.
Cerca de dois milhões de pessoas abandonaram as suas casas desde então e perto de metade dos 12 milhões de habitantes precisam de ajuda humanitária para sobreviver, segundo uma recente estimativa da Nações Unidas.
Lusa/SOL