"Vários estudos e experiências realizadas em ratinhos, entre 2011 e 2014, provaram a eficácia da molécula Redaporfin", descoberta na UC, para o tratamento de diversos tipos de cancro, "através de terapia fotodinâmica" (tratamento inovador que "permite eliminar células cancerígenas de forma precisa"), afirma a UC numa nota hoje divulgada.
De acordo com os ensaios realizados, "86% dos ratinhos com tumores diversos que foram tratados com esta tecnologia, seguindo exigentes protocolos de segurança, ficaram curados", salienta a mesma nota, adiantando que "não se observaram efeitos secundários, como acontece com os tratamentos convencionais", como a quimioterapia.
O estudo, que acaba de ser publicado no European Journal of Cancer, demonstrou igualmente uma "taxa de reincidência da doença muitíssimo baixa", revelando a eficácia do fármaco.
Os testes efetuados "previram com rigor quando é que a resposta ao tratamento iria surgir, com que doses e em que circunstâncias seriam obtidos os efeitos terapêuticos no doente", salienta o diretor da química medicinal deste projeto, Luís Arnaut.
As previsões estão a ser "confirmadas nos ensaios clínicos em curso", acrescenta o investigador da UC.
Esta confirmação é "excecional" porque, "na grande maioria dos estudos, muito do conhecimento adquirido nos testes em animais não é confirmado nos humanos", mas "neste caso foi possível chegar à dose adequada para obter resultado terapêutico nos doentes sem efeitos adversos, como previsto", explica Luís Arnaut.
Estão a decorrer ensaios com doentes oncológicos em hospitais portugueses até ao final deste ano e os resultados já conhecidos e validados cientificamente "fundamentam a expectativa" de que a terapia fotodinâmica com a molécula Redaporfin se revele "mais eficaz que as terapêuticas convencionais", admite Luís Arnaut.
Grande parte do percurso está feita e o primeiro fármaco português para tratamentos oncológicos poderá estar no mercado "dentro de três a quatro anos", acredita o investigador e catedrático do Departamento de Química da UC.
Iniciada há mais de uma década, a investigação envolve perto de quatro dezenas de investigadores dos grupos de Luís Arnaut e de Mariette Pereira, da UC, da empresa Luzitin SA (criada para desenvolver este projeto), e de uma equipa de médicos do Instituto Português de Oncologia do Porto.
O aspeto mais inovador do tratamento fotodinâmico com Redaporfin reside no facto de "estimular o sistema imunitário do paciente, ou seja, a terapia limita o processo de metastização do tumor", isto é, "o sistema imunitário fica alerta e ativa a proteção antitumoral contra o mesmo tipo de células cancerígenas noutras partes do organismo", conclui Luís Arnaut.
Fundada, em 2010, pela Bluepharma e inventores da Redaporfin, a Luzitin — que realizou os estudos de pré-clínicos para obter autorização para a realização de ensaios clínicos com a Redaporfin — está, desde 2014, a realizar em Portugal um ensaio clínico de fase I/II com doentes de cancro avançado da cabeça e pescoço.
A Luzitin SA é financiada pela farmacêutica de Coimbra Bluepharma e pela sociedade de capital de risco Portugal Ventures.
Lusa/SOL