Vinho Verde

Há muitos anos, era eu ainda moço pós-adolescente, fui visitar um amigo, António Sequeira Lopes, que se encontrava em prolongadas filmagens na região de Ponte de Lima. 

Era dia de folga e toda a equipa tinha aproveitado para se esgueirar em afazeres particulares, encontrando-se o António sozinho no enorme solar de turismo de habitação que alojava grande parte da produção. Recebeu-me, pois, como único anfitrião, mostrando-me a casa e a quinta e depois ficámos a tarde a conversar na frescura do alpendre e a beber um delicioso verde branco feito na propriedade. 

E nunca um vinho me soube tão bem como aquele loureiro fresquinho, ali, na sombra do telheiro, a receber a bênção da ligeira aragem da tarde enquanto o som abafado do calor minhoto, um misto de chilrear de passarada e zumbido de insectos entrecortado por ocasionais roncares de motores a subir as serras das cercanias, se espraiava ao redor. A ponto de ainda hoje me lembrar desse momento como se tivesse sido ontem… 

 

Acho que foi também a primeira vez em que verdadeiramente saboreei um vinho. 

Até então, como bom punk destroy que era, o álcool servia essencialmente de meio para atingir um fim, um pouco no seguimento do preconizado por Baudelaire nos seus Paraísos Artificiais. Nunca me passara pela cabeça que o saborear podia constituir um prazer, em si. 

Mas desde aí aprendi a gostar de associar o vinho verde a comidas e a ambientes. Porque é uma bebida única, que casa maravilhosamente com a paisagem verde e húmida de onde provém. 

Se bem que a sua região demarcada extravase o Minho, é no território minhoto que se focaliza o essencial da sua produção e das suas sub-regiões, como a de Monção e Melgaço, onde se produz o afamado alvarinho, ou as do Lima, do Cávado e do Ave. 

As vinhas concentram-se ao longo dos vales desses rios, com a sua condução tradicional em que as cepas se entrelaçam nas árvores – a chamada ‘vinha de enforcado’ – ou formam pérgolas, ditas ‘latadas’, ao longo dos caminhos ou na divisória das propriedades. 

 

As condições naturais da região noroeste portuguesa, exposta à influência atlântica, com solos maioritariamente graníticos, elevada precipitação pluvial e clima ameno, constituem aliás, a par das castas autóctones, um dos factores de diferenciação para a obtenção deste vinho jovem, de baixo teor alcoólico e enorme frescura, com aromas frutados ou florais e sabor leve e elegante, certificado vinho verde desde 1959. 

Mas se um verde branco é o refresco que melhor acompanha a preguiça estival minhota, é também o melhor acompanhante para um marisco ou um peixe grelhado acabadinho de pescar, valorando-lhe a frescura e exaltando-lhe o sabor. 

E o tinto, com a sua espuma arroxeada e intensa cor vermelho-granada, de aroma e sabor vinoso, encorpado e adstringente, é o companheiro ideal de umas costelinhas ou de umas barriguinhas, a limpar-lhes o excesso de gordura, numa qualquer noite de romaria ou, em tempo mais frio e de maiores necessidades calóricas, de umas papas de sarrabulho ou de uma lampreia à bordalesa.