Ouvidos que são olhos

Portugal-Brasil-EUA. Rui Miranda anda constantemente num corredor aéreo. As origens estão em Portugal, a mulher e os filhos nos Estados Unidos e agora o trabalho está entre os três países. A culpa é do currículo. Licenciado em Design de Som pela Universidade de Full Sail, na Flórida, é considerada uma das maiores universidades do mundo…

Pelo meio viaja pelo mundo para partilhar com estudantes o seu percurso, o que faz um sound designer e como se pode chegar mais longe. «O meu trabalho é fazer com que o que foi produzido em câmara tenha ainda mais impacto no produto final». Depois da China, passou por Portugal, para uma masterclass na Restart – Instituto de Criatividade, Artes e Novas Tecnologias mas já com os olhos postos no futuro. Em Agosto, ruma ao Brasil, ao núcleo duro da ficção: a Globo. «Aqui há uns tempos fui com a Full Sail ao Rio Film Festival. Num dos workshops que dei, mostrei como é que se fazia um som de um zombie. Ora a equipa da Globo foi toda assistir a esse workshop. Gostaram do que viram, falaram com a Full Sail, disseram que me queriam a trabalhar com eles e lá estarei no próximo mês». À sua espera está uma equipa de 36 pessoas, incumbidas de refazer a série da Malhação (que está no ar desde 1995). «A Globo quer saber como se trabalha nos EUA e tentar trazer essa mentalidade para o Brasil. Além disso, investiram 50 milhões de dólares em material e agora não têm pessoal qualificado para lidar com toda essa tecnologia». 

Concluída essa missão, Rui regressa a Portugal, desta vez como director de inovação da Restart. «O voltar a Portugal e à Restart lembra-me muito os meus primeiros tempos na Full Sail. Há muita coisa a fazer mas esses desafios são também o que me alicia». Por outras palavras, Rui Miranda vai apoiar a direcção desse instituto na identificação de oportunidades a nível nacional e internacional, bem como na adaptação da oferta de cursos às necessidades das empresas. Mas a viagem a Portugal não se fica só por Lisboa. A partir de Setembro vai também até Barcelos, onde dará aulas de áudio para videojogos, no Instituto Politécnico do Cávado e do Ave.  «Essa é uma indústria que vai crescer muito», assegura.

Fora das salas de aula – também é professor na universidade onde se licenciou –  está a compilar uma biblioteca de sons. «Há certos sons que são específicos de um determinado local. Por exemplo: se fecharmos os olhos na Amazónia e ouvirmos os sons da floresta, esse ambiente é muito diferente do de Lisboa ou de Nova Iorque. E o que eu faço é em cada um dos locais, estar pelo menos uma hora a gravar todos os sons, desde pessoas a andar, trânsito, tudo, e depois catalogo esses sons. Por isso digo que nesta profissão os ouvidos são mais importantes do que a visão». 

patricia.cintra@sol.pt