Sem palavras

Entre as dúvidas no diagnóstico, apenas uma certeza, simplificada pela revista New Scientist: «Não telefona para casa há muito tempo, e os seus pais estão a ficar preocupados». 

Philae podia ser um adolescente rebelde e birrento que faz greve de palavras para desafiar e apoquentar os adultos. Mas é um robô europeu em blackout. Talvez se tenha movido. Talvez as antenas tenham sofrido obstrução ou uma das unidades de recepção de rádio esteja danificada. Até ao fecho desta edição, confirmava o Centro Aeroespacial Alemão, o motivo do silêncio era ainda uma incógnita.

Sabe-se que a 12 de Novembro de 2014 pousou na superfície de um cometa do Sistema Solar, o 67P/Churyumov-Gerasimenko; que três dias depois mergulhou num sono prolongado; que reabriu a pestana apenas a 13 de Junho de 2015. E que tal como o pré-adulto trancado no quarto, que se pronuncia a conta-gotas do outro lado da porta em sinal de protesto, foi comunicando de forma intermitente com Rosetta, a sua nave-mãe em órbita. Desabafou pela última vez no dia 9 de Julho.

E retomou o modo silencioso, sem garantias à vista de que se volte a pronunciar. Cá em baixo, onde se multiplicam os encadeados pelo sol, que muito falam, pouco dizem, e menos ainda resolvem, vive o sírio Ibrahim, um dos muitos que esperam pelo estatuto de refugiado para poderem sondar o trabalho. Gostava de contar a sua história. Assim alguém se cale um pouco para ouvi-la. 

maria.r.silva@sol.pt