Lorde Coca
Lord John Sewel fez as delícias dos tablóides ingleses ao ser apanhado a ‘snifar’ cocaína na companhia de duas prostitutas. Os jornais mencionaram que Lord Sewel pagou 200 libras em dinheiro a uma e à outra uma quantia ligeiramente superior em cheque. Há uns pormenores curiosos nestes escândalos sórdidos. A utilização do cheque fez-me pensar que o homem de 67 anos não devia ser experiente nessas andanças (também acho 200 libras barato: será que queria falar?) e realmente não era. Foi a primeira vez que se meteu naquelas coboiadas. Antes de termos tempo de dizer ‘coitado’, Stephen Pollard escreveu no Telegraph um artigo impiedoso sobre ‘Lord Coke’, como é referido nos jornais. Lord Sewel era presidente do comité dos privilégios e conduta dos deputados e vice-porta-voz da Câmara dos Lordes. Definia, portanto, as regras de conduta para os outros. O dia em que um moralista cai em desgraça à vista de todos é sempre agradável para os outros moralistas.
Barulho
A fotografia da advogada e deputada argentina Victoria Donda a amamentar o filho num plenário do Congresso argentino provocou muito barulho. Donda tem um passado de horror. Nasceu em 1977 na ESMA, Escola Superior de Mecânica da Armada, que foi o centro de detenção e tortura durante a ditadura militar. Os pais não saíram de lá vivos e Victoria foi adoptada por um dos militares. Descobriu a verdade aos 26 anos. Aos 27 foi eleita deputada. A injustiça social e os direitos das mulheres fazem parte do seu activismo. Simpatizo com as suas prioridades e também concordo com o direito a amamentar sem constrangimentos nem censura. Dito isto, não gostei da foto. Pode ter sido por acaso, mas a imagem parece revelar mais um êxtase sexual exibicionista do que mostrar a actividade natural de amamentar uma criança. Pode ter sido um acaso, repito, mas se foi propositado, então esta mulher não está a fazer nem uma coisa nem a outra. Está só a fazer barulho.
Alívio
Um artigo na New Statesman fala-nos da síndrome das vibrações fantasmas. É assim que se chama a sensação de ter o telemóvel a vibrar quando na verdade não está nada. Muito relacionada com a ansiedade ou a dependência que desenvolvemos com estes aparelhos, a síndrome esteve quase a ser eleita por um desses chalados do DSM como perturbação mental da moda. Não faltam, aliás, denúncias de distúrbios ‘causados’ pela tecnologia. Felizmente, a Filosofia saiu em defesa da sensatez no mundo. Nos anos 60 Heidegger observou que os seres humanos usam a tecnologia, que faz parte da experiência – não é a experiência. Temos óculos para ler mas interessa o que lemos. Com os telemóveis é a mesma coisa. Podemos estar à espera de um telefonema, podemos querer que nos liguem ou achar que alguém nos está a ligar. Nestas circunstâncias, sentir a vibração inexistente faz parte da nossa atenção, preocupação ou vontade de comunicar. Temos todos um problema a menos.
Jaws
Todos vimos as imagens assustadoras de Mick Fanning a escapar daquilo que nos pareceu ser um ataque de um tubarão, em Jeffreys Bay, na África do Sul. Admito que desconfiei da sorte do surfista e não fui a única. Vários especialistas foram consultados para explicar o que tinha acontecido. Andy Casagrande é director de fotografia para a National Geographic e tem por ocupação filmar predadores debaixo de água. Numa entrevista à revista Outside, Casagrande disse que «não se tratou de um ataque», mas que Fanning «teve sorte». O tubarão só andava por ali em reconhecimento. Se quisesse almoçar, atacaria em velocidade de baixo para cima. Terá batido contra uma corda da prancha, o que acabou por salvar Fanning. Casagrande contou que a competição coincidiu com a migração de sardinhas e pequenos peixes, uma época que atrai muitos tubarões: «É como organizar um jogo de rugby no Parque Nacional de Serengeti durante a grande migração». Muito oportuno.