A moda dos mercados de bagageira, onde basta estacionar o carro e abrir o porta-bagagens para vender coisas em segunda mão, criações originais ou velharias não pára de crescer.
Uma das mais concorridas é a feira da bagageira do parque de estacionamento do Centro Comercial Fonte Nova em Lisboa, cuja última edição foi feita no início do mês. Há 130 lugares para parar o carro, pagando-se por cada um 30 euros. «É um museu a céu aberto», resume Fátima Baptista, uma das organizadoras desta feira que dura apenas um dia e onde passam 2.000 pessoas. «Começámos por produtos em segunda mão e reciclados com projectos originais, mas também nos surgem cada vez mais pessoas que não têm loja e vendem objectos à consignação», explica a responsável que, em conjunto com a sócia, montou no último ano mercados de venda em bagageiras de carros, em Alhandra, Oeiras e Lisboa e se prepara para realizar um na Ericeira a 8 e 9 de Agosto.
Há vendedores e compradores de todas as idades. Isaura Lopo, de 50 anos vende, sobretudo, antiguidades e velharias. A antiga secretária do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, depois de ter ficado desempregada, começou a vender coisas que tinha em casa e de que não gostava. Passou depois a comprar lotes de recheios de casas a antiquários para vender. «Tenho de tudo: de chaveninhas de porcelana a dois ou três euros, a livros antigos ou discos de vinil», conta.
A amiga Isabel Cupertino, de 50 anos, também não perde oportunidade e sempre que sabe que Isaura vai a uma destas feiras segue-a. «Tenho comprado coisas muito bonitas, desde porcelanas até toalhas de linho antigas», afirma.
Para José Cruz, conhecido como ‘Zé do Baú’, a grande vantagem destes eventos é o preço pago por lugar. «Se for para feiras nos arredores de Lisboa chegam a pedir-me 100 euros por dia», diz o fabricante de móveis que vai para as feiras numa carrinha azul emprestada. «Aqui mesmo se não vender não perco tanto».
Os percursores deste modelo em Portugal são as mulheres que fazem voluntariado na Women’s Royal Voluntary Service in Lisbon, que importaram este modelo de feira do Reino Unido e o replicaram em Carcavelos. Todos os anos organizam ali duas feiras de bagageira, para angariar fundos para projectos de solidariedade.
‘A ideia aqui é destralhar’
Já em Colares, onde o mercado da bagageira é organizado desde 2013, o objectivo foi outro: dinamizar a vila junto à Serra de Sintra.
«Queríamos algo que chamasse a atenção para Colares e uma amiga inglesa lembrou-se desta solução», explica Nelma Mariano, de 60 anos, uma bancária que, juntamente com uma amiga, tem como hobbie a organização deste mercado de velharias, onde não entram comerciantes nem revendedores.
«Aqui a ideia é despachar aquelas coisas que temos arrumadas na arrecadação ou no sótão e das quais só nos lembramos uma vez por ano quando lá vamos buscar a árvore de Natal», explica a bancária, rindo. «Queremos destralhar».
As regras para participar são claras e cada inscrição é avaliada. Para ali poder vender paga-se dez euros por carro, que revertem totalmente para o aluguer do parque de estacionamento.
Depois é abrir o porta-bagagens e mostrar o que se tem. Mas às vezes até os organizadores são apanhados de surpresa. Nelma Mariano recorda a história de um vendedor que apareceu num Mercedes antigo. «Além dos objectos que trazia, também vendia o carro».