Novo modelo computacional pode ajudar a combater o cancro

Uma equipa internacional de investigadores desenvolveu um modelo computacional quantitativo que descreve o crescimento de novos vasos sanguíneos e que terá “importantes implicações para novos tratamentos”, designadamente do cancro, anunciou hoje a Universidade de Coimbra (UC).

A investigação, desenvolvida por físicos, engenheiros biomédicos, médicos e biólogos, cria um "modelo computacional quantitativo", que descreve "o crescimento de novos vasos sanguíneos" e "terá importantes implicações no desenvolvimento de novos tratamentos para o cancro e não só", afirma a UC, numa nota hoje divulgada.

Liderada pelo investigador Rui Travasso, do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, a equipa interdisciplinar internacional simulou o crescimento de vasos sanguíneos que ocorre durante o desenvolvimento de um tumor, permitindo esclarecer como "a proliferação das células dos vasos sanguíneos é regulada durante o crescimento vascular", refere a UC.

"Este modelo computacional demonstrou, pela primeira vez, como a proliferação das células que compõem os vasos sanguíneos depende da tensão mecânica a que está sujeito o novo vaso durante o seu crescimento", sublinha Rui Travasso.

"Entender em detalhe como os vasos sanguíneos crescem é essencial para controlar o crescimento tumoral", sustenta Rui Travasso, referindo que "o desenvolvimento de vários tumores e de diversas patologias como a retinopatia diabética alicerça-se num rápido crescimento da vasculatura sanguínea".

No caso do cancro, "estes novos vasos são os responsáveis por levar ao tumor os nutrientes necessários à sua rápida proliferação", salienta o investigador.

"Várias terapias são desenvolvidas com vista a diminuir a vasculatura à volta das lesões tumorais", mas, "apesar de terem bons resultados", elas são "bastante onerosas, sendo, por isso, importante desenvolver novas estratégias para controlar a vascularização e a chegada de nutrientes ao tumor", explica o especialista.

O conhecimento dos membros da equipa sobre a biologia e a física do sistema foi essencial no desenvolvimento desta pesquisa, já publicada na PLoS Computational Biology, afirma UC, destacando que "este novo modelo computacional integra não só os sinais biológicos presentes no desenvolvimento de vascularização patológica, mas também a rigidez do tecido onde os vasos crescem e as forças exercidas pelas diferentes células do sistema".

Só assim, "foi possível verificar qual o papel da rigidez do tecido e das tensões mecânicas no desenvolvimento da vasculatura", salienta Rui Travasso.

Este trabalho, que foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), tem, "como consequência, a possibilidade de se utilizarem alterações nas propriedades físicas dos tecidos para dificultar o crescimento dos vasos num tumor", acrescenta o investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC.

Estas simulações computacionais "foram possíveis graças ao investimento realizado na maior unidade de supercomputação do país, que está sediada na UC", conclui Rui Travasso.

Lusa/SOL