Obra Católica: Imigrantes ilegais não devem ser vistos como invasores ou criminosos

A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), Eugénia Quaresma, afirmou hoje ser desejável que se deixe de ver os imigrantes ilegais como invasores ou criminosos, defendendo ser necessário tratamento “com dignidade”.

Obra Católica: Imigrantes ilegais não devem ser vistos como invasores ou criminosos

"O desejável seria que deixassem de olhar para estas pessoas como invasoras ou criminosas e as tratassem com dignidade", disse Eugénia Quaresma, ao abordar a forma como o primeiro-ministro britânico, David Cameron, se referiu aos imigrantes ilegais que tentam atravessar o Eurotúnel a partir de Calais, no norte de França.

David Cameron foi criticado por ter afirmado, em julho, que vai proteger o Reino Unido "da praga" de imigrantes que pretendem entrar no país, a partir de Calais.

Numa entrevista à cadeia ITV, no Vietname, onde se encontrava em visita oficial, Cameron declarou que a situação em Calais era "muito difícil porque uma praga de imigrantes atravessa o Mediterrâneo à procura de uma existência melhor e procura ir para o Reino Unido, por existir trabalho, ter uma economia em pleno crescimento e ser um sítio incrível para se viver".

Nas últimas semanas, milhares de migrantes concentrados em Calais têm tentado atravessar o Eurotúnel para chegar ao Reino Unido e ter melhores oportunidades de emprego e de vida, tendo já morrido pelo menos uma dezena de pessoas.

Em declarações à agência Lusa, no âmbito da peregrinação dos migrantes que hoje tem início no Santuário de Fátima, distrito de Santarém, a directora da OCPM declarou que as imagens que chegam "pela comunicação social não abonam a favor do acolhimento, entristecem, enfurecem, produzem desconfiança e poucos são os que se compadecem".

"A Igreja reconhece o direito dos Estados a regular os fluxos migratórios, mas também apela a soluções humanas, que passam pelo acolhimento condigno. Não podendo receber todos, há uma parte que pode ser recebida pelos diversos países desta Europa que precisa de imigrantes, a questão está em prepará-los para aqui chegar em vias seguras e legais, e preparar também o processo de integração", destacou a directora da OCPM.

Por outro lado, "importa lembrar que há pessoas que não querem imigrar e, tendo condições de subsistência, preferem ficar no seu país de origem", notou Eugénia Quaresma, apontando a necessidade de "promover o desenvolvimento sustentável dos Estados com acentuadas dificuldades de sobrevivência".

"Entre o governo britânico e francês há acordos, há investimentos financeiros, há divergências de opinião, há uma preocupação com a estética da região onde estas pessoas se conseguem acomodar, há preocupação com a segurança, mas não há uma tentativa de encontrar uma solução com estas pessoas, uma atitude de diálogo, de explicação, de cooperação", acrescentou.

A peregrinação dos migrantes a Fátima, que termina na quinta-feira, "vai destacar o papel do cristão no acolhimento e integração dos migrantes e refugiados", referiu a responsável.

Lusa/SOL