“O projecto do Parque foi pensado no início dos anos 90 como contrapartida da urbanização de Oeiras Norte. O que é raríssimo em Portugal é ter sido desafectada da zona de construção uma área tão grande para criação de um espaço verde”, conta Elsa Severino, a arquitecta paisagista autora do projecto, juntamente com Francisco Manuel Caldeira Cabral. Na altura, conta a arquitecta, o então presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, e o poeta David Mourão-Ferreira imaginaram dentro do parque uma alameda dos poetas. “Numa reunião que tivemos, o Francisco Caldeira Cabral sugeriu que, em vez de uma alameda, todo o parque fosse dedicado aos poetas”. A ideia de alameda manteve-se como linha dorsal, onde “os pequenos jardins dedicados aos vários autores são como folhas de uma árvore”.
A primeira fase da obra, com 10 ha, e dedicada ao século XX, foi inaugurada em 2003. Seguiu-se a zona referente aos trovadores e poetas da Renascença, aberta em 2013. A parte inaugurada a 18 de Julho é dedicada ao período entre o Barroco e o fim do Romantismo e também aos países lusófonos. Foi “também a fase mais complexa e mais cara”, e é a secção intermédia que faltava para ligar as duas zonas em contínuo.
Faltam agora as passagens aéreas que farão com que todo o parque seja percorrido sem atravessamento de estradas. Nesta zona está o Templo da Poesia, um equipamento com salas de exposição e restaurante, um dos mais importantes do parque, mas não o único, uma vez que foram construídas áreas como um anfiteatro e zonas desportivas.
“Foi a obra de uma vida”, diz Elsa Severino que, embora com outros projectos em mãos, voltava sempre a este, o mais ambicioso que já desenhou, que une a arte paisagista, a poesia, a escultura e a arquitectura. Foi preciso estudar a obra dos poetas propostos pela Câmara, que vão desde os trovadores aos nossos dias, para criar uma noção de que tipo de arranjo funcionaria com a poesia que assinam. E também para que a vegetação referida pelos autores estivesse contemplada ao vivo no parque. Por exemplo, dos Lusíadas, Elsa Severino retirou informação, e guiou-se também pelo livro do conde de Ficalho sobre a flora da obra máxima de Luís de Camões. “A flora referida é de uma enorme diversidade. São as plantas que com os Descobrimentos os portugueses trouxeram para a Europa. Porque as plantas autóctones eram muito poucas”. A ideia sempre foi o parque ser também um jardim botânico.
Quanto à coordenação com os escultores, ela nem sempre foi pacífica, muitos queriam que a sua obra fosse vista “como na sala de um museu, sem vegetação a esconder”. Uma negociação que levou à posição extrema de Charters de Almeida a não deixar que a sua obra sobre António Feijó fosse colocada, por discordar do projecto do jardim. “E sempre ficou claro, desde o início, que os jardins são feitos por nós”, refere Elsa Severino.