Cuba. Kerry apela em Havana para uma ‘democracia genuína’

O secretário de Estado norte-americano pediu hoje a Cuba para prosseguir o caminho de uma “democracia genuína”, durante o discurso na reabertura da embaixada dos Estados Unidos em Havana, depois de mais de cinco décadas de corte de relações.

“O povo cubano seria melhor servido por uma democracia genuína, onde as pessoas são livres de escolher os seus líderes”, disse John Kerry, na cerimónia marcada pelo hastear da bandeira na embaixada norte-americana em Havana, algo que não acontecia desde 1961.

“As nossas políticas do passado não conduziram a uma transição democrática em Cuba. Seria pouco realista esperar que a normalização de relações tenha um impacto transformador a curto prazo”, indicou Kerry, sublinhando ainda que a administração do Presidente Barack Obama é “fortemente favorável” ao levantamento do embargo norte-americano imposto a Cuba (em vigor desde 1962).

Na mesma intervenção, o chefe da diplomacia norte-americana afirmou sentir-se “em casa” na embaixada dos Estados Unidos na capital cubana.

“Um dia para colocar de lado as velhas barreiras e explorar novas possibilidades”, referiu.

“Não há nada a temer, já que serão muitos os benefícios que iremos usufruir quando permitirmos aos nossos cidadãos conhecerem-se melhor, fazer visitas com mais frequência, realizar negócios de forma regular, trocar ideias e aprender uns com os outros”, disse o chefe da diplomacia norte-americana, num excerto em espanhol do discurso.

Kerry é o primeiro chefe da diplomacia norte-americana a visitar a ilha caribenha em 70 anos.

O último secretário de Estado norte-americano a visitar Cuba tinha sido Edward Stettinius em 1945.

Um dos momentos mais simbólicos da cerimónia em Havana foi o hastear da bandeira norte-americana.

Três jovens ‘marines' (fuzileiros) norte-americanos içaram a bandeira dos Estados Unidos que receberam de forma solene das mãos de três veteranos: Larry Morris, Mike East e Jim Tracey, os mesmos ‘marines’ que arriaram a bandeira em 1961.

Os veteranos integram a delegação norte-americana composta por cerca de 20 funcionários e legisladores norte-americanos que acompanham Kerry nesta breve visita de 10 horas à ilha caribenha.

Outro momento da cerimónia foi a recitação de um poema, intitulado 'Cosas del Mar', pelo poeta americano de origem cubana Richard Blanco.

Esta cerimónia histórica acontece oito meses depois do anúncio de que os dois países iam iniciar negociações para o restabelecimento de relações diplomáticas.

A 17 de dezembro de 2014, os líderes norte-americano e cubano, Barack Obama e Raul Castro, respetivamente, anunciaram em simultâneo uma aproximação histórica entre os dois países, que estão separados unicamente pelos 150 quilómetros do Estreito da Florida.

Este anúncio surgia após 18 meses de negociações secretas entre os Estados Unidos e Cuba, sob a égide do Vaticano e do Canadá.

Após vários meses de rondas negociais, os dois líderes anunciaram a 01 de julho deste ano o restabelecimento das relações diplomáticas e a abertura de embaixadas nas capitais de cada país, medida que seria concretizada dias mais tarde, a 20 de julho.

Lusa / SOL