"Não é só devido ao regime fiscal. Em 2012 os franceses não queriam comprar em Portugal porque falava-se que depois da [eventual] saída da Grécia do euro, Portugal seria o seguinte. Então, os investidores nunca na vida iriam investir em Portugal. Agora que as coisas estão mais estabilizadas em Portugal e que a França está a atravessar uma crise de confiança, as pessoas preferem investir noutros sítios e virou moda investir em Portugal", descreveu Pascal Gonçalves.
O administrador da 'Maison au Portugal' explicou que "o mercado francês – não só dos reformados mas em geral – aumentou bastante", afiançando que este ano vendeu "quatro vezes mais casas a franceses do que há três anos" e que os reformados representam 40% dos seus clientes.
"Portugal é um novo destino pelas vantagens fiscais, pela proximidade geográfica e cultural com França e beneficia da instabilidade no mundo muçulmano. Mesmo que Marrocos não tenha instabilidade, os franceses têm receio e preferem investir num país dentro da União Europeia", acrescentou.
A procura por casas em Portugal aumentou desde a entrada em vigor, em janeiro de 2013, do estatuto do residente não habitual em Portugal, que permite a qualquer reformado da União Europeia (do setor privado) uma isenção fiscal durante dez anos, desde que resida em Portugal 183 dias por ano e não tenha tido residência fiscal no país nos últimos cinco anos.
Este argumento está em destaque na página na Internet da 'Maison au Portugal' e tem sido repetido nas ações de promoção da imobiliária: "Fazemos apresentações em diversas cidades francesas e publicidade na imprensa local. Na última vez, reunimos em dois dias cerca de 200 pessoas na Avenue Kléber, em Paris. Fala-se sobretudo dos pontos positivos da vida em Portugal, fala-se também do facto de com a economia fiscal se conseguir um nível de vida muito bom em Portugal, já que há um custo de vida mais barato do que em França", continuou Pascal Gonçalves.
Questionado sobre as queixas de reformados portugueses que não conseguiram obter o estatuto de residente não habitual, Pascal Gonçalves afirmou que "basta fazerem prova junto da administração fiscal portuguesa que pagaram os impostos nos últimos cinco anos em França para que a administração fiscal portuguesa reconheça que eles são elegíveis para se candidatarem e obterem este estatuto de residência não habitual".
O presidente da delegação portuguesa da associação Union des Français de l'étranger (UFE), Françoise Conestabile, disse à Lusa que recebe diariamente pedidos de informação sobre o país e que "é indiscutível que os franceses estão a descobrir Portugal".
"Temos pedidos de franceses que estão em Marrocos ou até na Turquia e que querem vir para Portugal. É um país europeu com a mesma cultura, que está no euro, que fica a duas horas de Paris com voos para todas as carteiras e há imensas vantagens", descreveu.
A UFE existe desde 1927 mas a delegação portuguesa apenas foi criada em 2001, em Lisboa, tendo atualmente delegações em Caldas da Rainha e em Portimão e organizando várias atividades para os reformados franceses que querem descobrir Portugal, como visitas culturais, conferências, almoços ou degustação de vinhos portugueses.
Françoise Conestabile explicou ainda que, "ao nível da associação, houve um aumento exponencial de membros [franceses]", tendo passado, nos últimos 18 meses, de 150 a 750 em Lisboa, havendo "cerca de 300 na região do Algarve" e "entre 80 a 100 nas Caldas da Rainha".
"Mergulhamo-los totalmente na cultura e na economia portuguesas. O nosso objetivo é fazer com que gostem de Portugal e aprendam português, porque é a única dificuldade que têm – já que aos 60, 65 anos não é tão fácil aprender. Mas os nossos franceses gostam de Portugal e são felizes lá", explicou Françoise Conestabile, atualmente de férias em França mas a residir em Lisboa há 29 anos.
Lusa/SOL