Diante de alguns dos melhores jogadores juvenis da Europa, América, África, Ásia e Australásia, num torneio organizado pelo R&A desde 1949, Pedro Lencart e os irmãos gémeos Afonso e João Girão ficaram-se pelos 36 buracos de uma competição disputada em dois campos ingleses, Royal Birkdale (de Par-71) e Southport & Ainsdale (Par-72). O treinador Nelson Ribeiro, que este ano acompanhou os jogadores, ficou algo surpreendido pela dureza dos percursos ingleses: «palcos de competições do mais alto nível como o British Open (de ambos os sexos), The Amateur, The Brabazon, entre outros. Só após das voltas de treino verificámos o que tínhamos pela frente, dois campos que nos obrigavam a dar shots e não campos onde tínhamos opção de escolha.».
O membro da equipa técnica nacional dedicado aos escalões etários juvenis ficou igualmente impressionado pela força e competitividade deste Major, que só tem alguma equiparação no US Amateur e, em menor grau, no Orange Bowl Junior Golf Championship: «A competição, só por si, apresenta um grau de dificuldade muito elevado, com 252 jogadores de todo o Mundo, para preencher 64 vagas na fase de match-play. Um simples bogey fazia oscilar por vezes 100 lugares na tabela, tal a competitividade».
É esta conjugação de fatores, de percursos complicados com muitos e bons jogadores em competição, que tem forjado grandes campeões que por aqui passaram como Sergio Garcia, José Maria Olazábal, Luke Donald, Martin Kaymer, Graeme McDowell, Lee Westwood, Sandy Lyle, Padraig Harrington e Rory McIlroy, quase todos vencedores de Majors. Ainda no ano passado as condições eram tal que o cut fixou-se em +14! Este ano em +6. Brutal, a um nível profissional.O objetivo, como reconhece o profissional, era «passar a fase de match play», um plano ambicioso mas não impossível. Afinal, João Girão tentava fazê-lo pela terceira vez seguida e Vítor Lopes também o conseguiu nesses mesmos anos de 2013 (em Royal Liverpool e Wallasey) e em 2014 (em Prestwick e no Dundonald Links).
Portugal tem até direito a figurar no corredor da fama do torneio, com a vitória de Pedro Figueiredo em 2008 em Little Aston, sendo o único português a fazê-lo na história do torneio fundado em 1921. O objetivo não foi, portanto, cumprido, mas a história foi bem diferente de jogador para jogador. Para João Girão, de 18 anos, terá sido uma deceção, dado que ia bem lançado no primeiro dia. É certo que calhou-lhe jogar no mais benigno dos campos, o Southport & Ainsdale, mas a verdade é que soube aproveitar a oportunidade e aos 18 buracos estava no grupo dos 45º classificados, com 74 pancadas, 2 acima do Par, num dia em que ainda converteu 2 birdies.
Só que, no dia seguinte (ontem), em Royal Birkdale, sentiu o peso de um campo mítico. Para um jogador do seu nível e da forma como tem jogado este ano, tanto em competições internacionais como nacionais, não é normal um 86 (+15), revestido de 3 triplos-bogeys, 2 duplos-bogeys e 2 bogeys. Mas acontece, é golfe e será preciso superar a desilusão. Para o seu irmão gémeo, Afonso, o atual campeão nacional de sub-18, era a derradeira oportunidade de passar o cut nesta prova que lhe tem sido aziaga. Mas, no seu caso, nunca esteve perto de seguir em frente, com voltas de 79 (+8) em Royal Birkdale e de 76 (+4) no Southport & Ainsdale. Mesmo assim, deve ter-lhe dado gozo fazer 3 birdies no segundo dia e subir 26 lugares na classificação.
Por último, Pedro Lencart, sai de Inglaterra com um sentimento ambivalente. Por um lado, mostrou uma vez mais que tem um enorme potencial. Era um dos mais jovens do torneio, com apenas 15 anos, foi a sua estreia neste Major, sete meses depois de se ter iniciado também, por exemplo, no Campeonato Internacional Amador de Portugal.
Mas, por outro lado, é impossível que não sinta um travo amargo de boca por ter ficado a apenas 1 pancada de passar o cut, depois de uma sensacional recuperação. Se no primeiro dia parecia ter tudo perdido com 78 (+7) em Royal Birkdale (onde, mesmo assim, foi o único português a conseguir arrancar 1 birdie ao campo), no segundo dia chegou a andar dentro do cut provisório, com birdies nos buracos 8, 12 e 13 do Southport & Ainsdale, antes de 1 duplo-bogey no 15 e 1 duplo no 16 o atirarem para o grupo dos que falharam pela margem mínima.
O aspeto positivo é que o vencedor do Campeonato Internacional Juvenil da Finlândia sabe que tem ainda uns bons anos pela frente para brilhar neste British Boys, onde já deu muito boas indicações como rookie e no último dia subiu 84 posições.
Nelson Ribeiro, consciente da necessidade de recuperar psicologicamente os jogadores para o Campeonato Internacional da Bélgica de sub-18 e para o Campeonato da Europa de Equipas de sub-18 que ainda aí vêm, fez questão de deixar-lhes uma palavra final de alento: «A dedicação e a motivação de todos foi muito elevada. Infelizmente nenhum conseguiu impor-se, principalmente no Royal Birkdale, campo onde já se jogaram competições de profissionais com o Par do campo a variar entre 70 a 75, mediante o grau de dificuldade pré-estabelecido. Um dos melhores atletas de todos os tempos, Tiger Woods, afirmou que quem jogar bem neste links, joga bem em qual campo do Mundo».
Veja-se como Bradley Moore, o inglês de 17 anos que recentemente venceu o Carris Trophy, foi o melhor na fase de stroke play, com 137 (-6), mas sentiu bem a diferença entre ambos os percursos, com 65 (-7) em Southport & Ainsdale e 72 (+1) em Royal Birkdale.
A classificação dos portugueses aos 36 buracos foi a seguinte:
66º (empatado) Pedro Lencart, 150 (+7): 78 (+7) em Royal Birkdale + 72 (Par) no Southport & Ainsdale;
147º (empatado) Afonso Girão, 155 (+12): 79 (+8) em Royal Birkdale + 76 (+4) no Southport & Ainsdale;
204º (empatado) João Girão, 160 (+17): 74 (+2) no Southport & Ainsdale + 86 (+15) em Royal Birkdale.
Artigo escrito por Hugo Ribeiro, ao abrigo da parceria entre a Federação Portuguesa de Golfe com o Semanário SOL.