“Mas isto não é como o negócio dos livros, em que a Amazon apareceu e revolucionou o mercado”, sustenta Ricardo Macedo. O mundo da arte é mais cauteloso e ainda há necessidade de um local ‘físico’ onde as obras possam ser vistas ‘realmente’. Para assegurar esse conforto, existe uma galeria onde grande parte das obras passa por um período de exposição, que actualmente se conta em 60 dias.
Aliás foi nesta dimensão offline que tudo começou. Mecenas do Theatro Circo e promotor de um grande prémio de literatura – neste ano atribuído a Luísa Costa Gomes – o grupo dst (com actividades desde a construção às energias renováveis) abriu em 2014 a Galeria Emergentes dst e lançou um concurso interno de ideias de negócio para que a galeria pudesse expandir-se do espaço confinado ao centro da cidade. Mariana Gomes, recém-licenciada então a trabalhar no departamento de marketing do grupo, percebeu que era a altura de pôr em prática uma ideia antiga: criar uma plataforma onde novos artistas vendessem o seu trabalho. É ela agora a CEO da Shair.
“A Shair iniciou-se como um projecto bipartido”, explica Ricardo Macedo. Há uma relação directa entre o site e a galeria. “Cada exposição na galeria é composta em 60% pelas obras mais votadas pelos utilizadores da Shair e nos restantes 40% pela escolha de um júri convidado, que inclui nomes como o artista plástico Miguel Palma ou o galerista Mário Sequeira”.
Mas o projecto que começou por ser uma extensão digital da galeria de Braga cedo aglutinou outras. Neste momento, a Shair funciona como agente de 20 galerias (portuguesas, espanholas e britânicas), com portfolio de cerca de mil artistas. “Para as galerias, a integração no nosso projecto é uma maneira de vender mais longe”.
Para os artistas principiantes é também muitas vezes um bom começo, já que é fácil inscreverem-se na plataforma, gratuitamente, através do preenchimento online de uma ficha e seguindo o guia (existente no site) de como fotografar para submeter os trabalhos. A obra fica em pré-selecção e será inscrita numa das quatro categorias: escultura, pintura, fotografia, desenho/ilustração.
Quanto à comparação com uma galeria de arte tradicional, Ricardo Macedo defende que são negócios diferentes e nem sequer concorrentes. E explica as diferenças: “Na Shair não há uma curadoria. Enquanto um galerista segue princípios estéticos para a escolha dos artistas e tem uma relação muito próxima com os seus clientes, a Shair permite a democratização, abrindo portas aos novos artistas e permitindo a compra por parte de qualquer cliente no mundo”. Assim não há roubo de clientes, mas expansão de potenciais interessados, até porque na Shair os preços são também muito democráticos.
Para os artistas, a presença na Shair dá a hipótese acrescida de verem o seu trabalho exposto num espaço formal, o da Galeria Emergentes dst, que num ano fez 10 exposições. Um contacto directo que ainda é importante no mundo da arte.
“A Shair deve ser um local onde os artistas se sintam bem”, resume Ricardo Macedo. A distribuição dos lucros também vai nesse sentido: 70% para o artista.
Além de ser uma banca de venda, a Shair quer ser “um ecossistema de partilha de conhecimento entre todos os intervenientes”. O passo a seguir é uma espécie de curadoria em que alguns artistas, galeristas ou críticos de arte fazem uma selecção pessoal do portfolio da Shair.