Foi, por isso, com natural regozijo que as seleções nacionais amadoras da Federação Portuguesa de Golfe saíram hoje da República Checa com a sensação do dever bem cumprido no Campeonato Internacional daquele país. Vivemos uma fase bem positiva do golfe nacional. Afinal, nas semanas anteriores, houve proezas portuguesas no European Tour, no Challenge Tour, na Segunda Divisão do Campeonato da Europa Amador por Equipas e no Campeonato Internacional Juvenil da Finlândia, para referir apenas os mais notórios.
Mas voltando ao Prosper Golf Resort Čeladná, onde uma trovoada levou ao cancelamento da terceira volta, passando o torneio de 72 para 54 buracos, Vítor Lopes obteve a sua melhor classificação do ano, um 5º lugar, com o mesmo resultado do 3º, com 218 pancadas, 2 acima do Par, depois de voltas de 75, 70 e 73.
O algarvio de 18 anos tinha sido 7º este ano no Southern Cross Invitational, na Argentina, pelo que é o seu segundo top-ten do ano em competições deste nível. Pelo que tinha jogado na sexta-feira, numa volta (71, -1) anulada, e pelo que jogou ontem, se o torneio tivesse contado as quatro voltas e não apenas três, o vice-campeão nacional amador teria mesmo garantido um top-3. Foi um bom percurso de trás para a frente, recuperando animicamente do desaire que vivera na semana anterior no Europeu.
«Foi uma pena não trazer o troféu para casa, mas depois de duas semanas inconsistente em todos os aspetos, um 3º lugar aumenta um pouco a autoestima e estou convicto de que posso vir a fazer muito melhor para os torneios futuros», disse o nº1 do Ranking Nacional BPI.
O facto de Vítor Lopes se referir ao 3º lugar e não ao 5º que lhe foi realmente atribuído pela Federação Checa de Golfe tem duas explicações. Por um lado, este torneio começou por aderir ao sistema de desempates apenas na classificação feminina e não na masculina. Só a meio da prova introduziu também os desempates na tabela masculina. Por outro lado, o campeão da Taça da FPG/BPI visa cada vez mais uma carreira profissional, já joga alguns torneios profissionais e começa a pensar como eles, ou seja, em empatados. Poderá ser um bom sinal.
Claro que David Moura, o membro da equipa técnica da FPG que acompanhou os jogadores à República Checa, tem de reger-se pela classificação oficial e explicou ao Gabinete de Imprensa da FPG porque razão Vítor Lopes não conseguiu o 3º lugar: «Foi T3 mas classificado no 5º lugar, porque os que empataram com ele vieram de trás. Os critérios de desempate foram pelos últimos 18, 9, 6, 3 e 1 buracos». É essa análise que se aplica também a Leonor Bessa, que alcançou a sua segunda melhor classificação da época em competições deste nível, depois do 2º lugar no Campeonato Nacional de Stroke Play da Argentina.
A nortenha celebrou o seu 17º aniversário na República Checa e foi 6ª classificada, com 223 pancadas, 7 acima do Par, após voltas 77, 72 e 74, o mesmo resultado final da 4ª classificada, ficando muito perto de ser a 3ª.
Uma vez mais, David Moura sublinhou esse facto: «Ficou T4, mas como as outras empatadas vinham de trás, terminou em 6ª. Se tivesse feito menos 1 pancada teríamos levado a medalha de bronze para casa, porque iria empatar com a 3ª e aí seria ela a vir de trás e a ficar com a medalha».
«Nunca fico satisfeita porque acho sempre que poderia ser melhor, mas dei o meu melhor. Estava com vontade de jogar abaixo do Par mas não aconteceu», afirmou a campeã nacional de sub-18, sublinhando o único aspeto em que, realmente, terá ficado aquém do que desejava – jogar pelo menos uma volta abaixo do Par. Um aspeto interessante é que há quase um ano que Leonor Bessa é a melhor portuguesa em competições internacionais.
A terceira melhor classificação portuguesa na República Checa foi de Susana Ribeiro, que carimbou a sua segunda melhor prestação da temporada, depois do 6º lugar na Argentina. O seu 15º lugar, com o mesmo resultado da 14ª, iguala mesmo a classificação que tinha conseguido no Campeonato Internacional de Espanha de Stroke Play de 2014 que, nessa altura, tinha sido a sua melhor de sempre no estrangeiro.
Há, portanto, uma evolução em Susana Ribeiro em 2015. Um dia antes do torneio a tricampeã nacional amadora celebrou o seu 25º aniversário e depois agregou 230 pancadas, 14 acima do Par, entregando cartões de 74, 79 e 77. «Saio com boas e más memórias. Sinto que em qualquer um dos dias poderia ter jogado bem melhor, principalmente no segundo dia, no qual falhei muitos greens e saídas (hooks). No último dia, estive mal nos putts compridos. É um pouco frustrante mas é golfe e senti que se estivesse a jogar bem – como, por exemplo, no Campeonato Nacional – até poderia ter estado à altura de discutir este título do início ao fim», admitiu ao Gabinete de Imprensa da FPG.
«Foi muito positivo para ela ter jogado um torneio internacional razoável, pois já andava a precisar», analisou David Moura, colocando a ênfase nesta questão da portuense dominar o golfe feminino intramuros mas nem sempre conseguir levar essa qualidade de jogo para o estrangeiro. Finalmente, dos portugueses que passaram o cut, o último foi Tomás Silva, mas, atenção, é o único a poder vangloriar-se de ter jogado dois torneios internacionais completos nas duas últimas semanas, pois na semana passada só ele tinha passado o cut no Europeu.
E tal como no Europeu da Eslováquia, foi no jogo no green que enterrou as suas reais chances de lutar pelos lugares cimeiros na República Checa. Mesmo assim, foi por muito pouco que não conseguiu um top-20, fechando em 21º, com o mesmo resultado do 22º, ao acumular 228 pancadas, 12 acima do Par, uma consequência de jornadas em 76, 77 e 75.
«No geral, foram duas semanas em que me senti muito bem fisicamente, confortável com o swing, mas o putt deixou muito a desejar», lamentou-se o triplo campeão nacional amador. O profissional David Moura fez questão de tecer algumas considerações globais da participação da comitiva da FPG e o tom é otimista: «Fica sempre uma pequena frustração de, por 1 pancada, nenhuma das seleções, a masculina e a feminina, ter levado uma medalha para casa. Mas o balanço foi positivo, apesar de reconhecer que a lista de inscritos não era muito forte, mas não deixa de ser um Campeonato Internacional (da EGA) e não me lembro, na história do nosso golfe nacional, de numa competição de homens e senhoras em que tenhamos tido classificações semelhantes, com dois T4. O ambiente da nossa comitiva foi excelente, com dois aniversários e a equipa motivada, a sentir que tinha valor para ser premiada neste torneio. Tivemos um obstáculo da natureza (trovoada no terceiro dia) que cortou muito essa motivação de chegarmos ao primeiro lugar, mas estou orgulho deles, pois foram companheiros uns com os outros, deram o seu melhor por eles e pelo nosso país».
Análise à última volta de cada jogador
Depois do balanço final do torneio, David Moura fez uma análise mais detalhada à última volta de cada jogador e percebe-se pelas suas palavras como os quatro portugueses tiveram hipóteses de melhorar a classificação que, já de si, foi bem positiva. Um aspeto positivo a salientar foi o de Inês Barbosa ter-se colocado à disposição de Leonor Bessa para servir de caddie e de Vasco Alves ter feito o mesmo a Vítor Lopes. Os campeões nacionais de sub-16 tinham falhado o cut e ajudaram os companheiros a manter os ânimos elevados, ao mesmo tempo que os pouparam fisicamente. Afinal, como salientou David Moura, as exigências físicas do Prosper Golf Resort Čeladná «são semelhantes às do Clube de Golfe do Santo da Serra»!
Eis as palavras do treinador das seleções nacionais na República Checa:
«O Vítor Lopes não começou da melhor forma com bogeys nos buracos 3 e 4. Recuperou com birdie no 5 e outros dois até ao final dos primeiros nove buracos (8 e 9). Estava no 3º lugar ao final de 11 buracos e com boa perspetiva de atacar o 2º lugar mas, infelizmente, sofreu 1 duplo-bogey no buraco 12, porque o segundo shot passou a bandeira e ficou no patamar de cima do green, sem hipóteses para Par e ainda falhou o putt para bogey. No buraco 14 foi ao bunker, ficou sem "stance" para um bom shot e veio mais um bogey. Depois, 1 birdie no 16 deixou-o de novo no 3º lugar empatado e precisávamos de um birdie no 18 para ficarmos isolados e levarmos a medalha de bronze para casa, mas o shot ao green ficou 3 metros curto e foi parar ao bunker. Ainda conseguiu fazer "shot & putt" o T3, mas classificado no 5º lugar porque os que empataram com ele vieram de trás. «À Leonor, a meu ver, faltou-lhe um pouco mais de convicção nos shots com os ferros nos dois primeiros buracos, mas depois recuperou até ao buraco 10 com mais um birdie. Teve bogeys no 11 (3 putts) e no 12 (passou a bandeira e naquele green não se pode). Voltou a recuperar com birdie no 14, (grande saída) e depois manteve a performance até ao final.
«A Susana fez um jogo normal. Não fez nenhuma grande exibição neste torneio».
«O Tomás, depois de ter recuperado alguma confiança no putt no dia anterior, começou logo no buraco 1 com 5 putts. Deu 3 shots quase perfeitos até á bandeira no Par-5, mas no pitch shot, a uma distância dentro dos 100 metros, com a bandeira no último patamar, a bola pichou a uns 4 metros curtos da bandeira, fez backspin e veio para ao inicio do green, ficando com um putt de 40 metros com duas grandes lombas para passar. Só as passou ao terceiro putt e depois foram mais 2 putts. Não foi bem um balde de água fria, foi mais um mergulho para debaixo de um iceberg. Mas manteve a calma e se fez 3 acima logo no primeiro buraco, foi com esse resultado que terminou e veja-se bem, acertou todos os fairways e todos os greens».
Campeões "wire-to-wire"
O Campeonato Internacional da República Checa foi ganho com vitórias “wire-to-wire”, ou seja, com os jogadores a liderarem (isolados ou empatados) desde a primeira volta. A checa Hana Rysková somou 219 (70+72+77), +3, com 1 de vantagem sobre a sua compatriota Sára Kousková +3, enquanto o austríaco Michael Ludwig totalizou 209 (68+69+72), -7, batendo por 7 o checo Nicolas Schellong.
Ambos conquistaram os seus primeiros títulos do ano e Hana Rysková melhorou o 8lugar alcançado no ano passado, não neste campo, mas no Mladá Boleslav.
CLASSIFICAÇÕES E RESULTADOS FINAIS DOS PORTUGUESES
Os resultados e classificações definitivos dos portugueses foram os seguintes:
Torneio feminino
6º (era 13ª e 5ª) Leonor Bessa, 223 (77+72+74), +7 (empatada com a 4ª)
15ª (era 7ª e 14ª) Susana Ribeiro, 230 (74+79+77), +14 (empatada com a 14ª)
46ª (era 48ª) Inês Barbosa, 168 (86-82), +24 (falhou o cut)
Torneio masculino
5º (era 20º e 6º) Vítor Lopes, 218 (75+70+73), +2 (empatado com o 3º)
21º (era 30º e 24º) Tomás Silva, 228 (76+77+75), +12 (empatado com o 22º)
61º (era 67º) Vasco Alves, 161 (81+80), +17 (falhou o cut)
Artigo escrito por Hugo Ribeiro, ao abrigo da parceria entre a Federação Portuguesa de Golfe com o Semanário SOL.