De manhã fazíamos praia e à tarde andávamos de bicicleta – ora pelo passeio da marginal, ora pelas ruelas da vila, ora em longos passeios à beira-mar até Moledo. E aí, com os miúdos da terra, suspirávamos em histórias de piratas a olhar para a Ínsua, como é comummente designada, plantada a duzentos metros da costa, ali quase ao alcance da mão, e para o seu forte setecentista.
Havia quem dissesse que, nas grandes marés vazas, se podia ir até lá a pé ou com água só pela cintura. Outros contavam que já lá tinham ido de barco e falavam do convento em ruínas e de um poço de água doce que aí existia. Mas acabávamos sempre nas histórias dos ataques de piratas…
Com efeito, a Ínsua de Santo Isidro, como é oficialmente denominada, é uma pequena ilhota arenosa de base granítica na foz do Rio Minho, com cerca de 400 metros de comprimento, que teve nos frades franciscanos os seus primeiros ocupantes.
Estes, em 1392, encontraram aí um poço de água doce – um dos três únicos no mundo situados no mar – e edificaram um convento.
Também por essa época, por ordem de D. João I, foi levantado um primeiro forte para defesa da costa. Foi este forte que no final do século XVI, a mando de Filipe I de Portugal, sofreu sucessivas obras que lhe aumentaram a eficácia artilheira para fazer face aos ataques dos corsários ingleses e franceses que constantemente o atacavam. É daí que vêm as histórias de piratas que povoaram a minha infância!
Mas a sua configuração actual, de planta estrelar irregular, com cinco baluartes e revelim, de guaritas facetadas cobertas por calotes esféricas nos cunhais, um balcão rectangular assente em mísulas com o mesmo tipo de cobertura e portão principal de arco pleno a meio da muralha, data de meados do século XVII. Altura em que, no reinado de D. João IV, no contexto da Guerra da Restauração contra Castela, foi feita uma grande reforma nas fortalezas costeiras nacionais, tendo o forte da Ínsua sido remodelado de acordo com as necessidades de defesa da fronteira do Minho.
Intramuros, o forte integrou junto à praça de armas o convento franciscano pré-existente e ampliado em 1471 e em 1676, composto por uma igreja de planta longitudinal com nave única coberta por abóbada e por um claustro rectangular com alas formadas por colunatas jónicas, de onde partiam as restantes dependências conventuais, como as celas ou a cozinha, actualmente muito arruinadas.
Os franciscanos abandonaram o convento em 1834, quando da extinção das ordens religiosas após a vitória dos liberais no fim da guerra civil, ficando o conjunto entregue exclusivamente ao exército, que o largou em 1910, ano em que foi classificado Monumento Nacional.
Actualmente a ilhota é visitável através de um barco turístico com carreiras regulares a partir de Moledo. E se isso a fez perder a magia de fábula inverificável, fê-la ganhar o arrepio do contacto directo com um dos mais singulares fortes defensivos da costa portuguesa, implantado num ilhéu e possuindo um raríssimo poço de água doce instalado no mar.