Mar português

A Moda Lisboa deste ano teve uma novidade que encantou tanto os mais desportistas como os mais fashionistas. Em Março, a Lava Surf Culture apresentava-se oficialmente na Wonder Room – o espaço dedicado aos novos talentos – para mostrar ao público aquilo que desde 2012 andava a ser imaginado por Tiago Zorro: “Uma marca dedicada…

Mas até aqui chegar, o surfista teve que enfrentar muitas ondas. “Desde criança que tive a oportunidade de viver bem perto da praia e não consigo dissociar a minha personalidade desse facto”. Começou aos 13 anos no bodyboard na Costa da Caparica e no Algarve, onde costumava passar férias com os pais e, mais tarde, por influência de um grupo de amigos, passou então para pranchas maiores e foi-se apaixonando por este mundo. “Desde então, a minha ligação com o mar e com toda a sua envolvência foi sendo cada vez mais íntima e mais forte; algo que sinto que sempre fez parte da minha vida e, com todo o prazer afirmo, que não irá desaparecer nunca”. Tal como as artes e o design, que também vieram para ficar na vida de Tiago. A ligação entre os dois mundos levou o surfista a uma constatação: era necessário “trazer ao movimento do surf uma marca que fizesse a diferença”. Claro que a epifania aconteceu em pleno oceano Atlântico – como não podia deixar de ser – enquanto esperava “por uma onda no line up com o meu instrutor e shaper [Manuel ‘Wolf’ Heitor]. Ambos achávamos que faltava essência e identidade às pranchas que víamos dentro de água”. E pronto. Estava dado o mote para criarem pranchas personalizadas, únicas e exclusivas que conferissem a quem as encomenda “a certeza de uma personalidade forte”.

Em três anos, têm cinco pontos de venda a nível nacional – de Sagres ao Porto – e estão a estabelecer parcerias internacionais para levar a marca além fronteiras, apesar de já terem clientes na Suécia e em França. Clientes dispostos a pagar entre 590 e mil euros por uma prancha personalizada. “Contudo, temos diversos casos – como por exemplo uma com folha de ouro – que chega aos 2.675 euros”. Seja qual for o valor da encomenda o processo é sempre o mesmo. Os clientes contactam a Lava Surf Culture e Tiago marca uma reunião para reunir toda a informação necessária. Depois é esperar entre quatro a oito semanas para ver nascer o produto final.

“E sim, existem marcas a produzir pranchas incríveis mas acho que existe sempre espaço para criar algo de novo”, defende Tiago que aproveitou a onda vintage/retro para assim afirmar a personalidade das suas criações. Foi essa mesma onda que levou a Chanel a apresentar, em 2010, a sua primeira colecção de pranchas vintage nas versões vermelho, branco e preto, ambas com o símbolo da casa francesa e um preço que ultrapassava os quatro mil dólares. Passados dois anos, foi a Lacoste Lab a apresentar na sua selecção ‘Dream Products’ (produtos de sonho) uma prancha de surf assinada pelo colectivo J.P. Stark/Notox. Finalmente, no ano passado, o estilista Alexander Wang quis também a aventurar-se nesta onda e desenhou três pranchas para a marca australiana Haydenshapes. Mas o que têm, afinal, em comum a Chanel, a Lacoste, Alexander Wang e a Lava Surf Culture? Tiago responde por todos: “Não queremos ser uma marca de massas mas uma marca de culto”.

patricia.cintra@sol.pt