Mas a ciência nunca lhe saiu do sangue e das preferências. Não ficou esquecida. “Toda a vida cresci com a ciência servida com o bife e as batatas, era parte do dia-a-dia. Além disso tinha os interesses pela literatura e pela música e agora tenho uma experiência de mais de 25 anos no jornalismo na área cultural. Os dois mundos estão muito naturalmente aqui presentes”, diz à Tabu.
Por isso, entre as habituais crónicas sobre a pop nos jornais – e outras façanhas culturais da humanidade – ou programas de rádio como os Discos Voadores (lá está, a ciência paira sempre sobre este imaginário) na Radar, Galopim regressou, em livro, a um lugar que lhe marcou a imaginação de miúdo, Marte. Apesar de a obra ter sido publicada na colecção Ciência Aberta da Gradiva, a nossa editora especializada em matérias científicas, não se espere um denso ensaio sobre a dimensão, a morfologia ou outras características do Planeta Vermelho.
Em Os Marcianos Somos Nós, Nuno Galopim fala de todas as tentativas humanas de ‘visitar’ este nosso vizinho do sistema solar. E, à falta de melhor, ou do possível, a humanidade já o colonizou, pelo menos em pensamento. “Só lá fomos através de sondas, umas que aterraram e outras que estão em órbita, mas a presença mais forte que existe do homem em Marte é através da imaginação”.
E para contar esta história do Planeta Vermelho no imaginário humano, Galopim recua até às primeiras teorias, ainda em finais do século XIX, que cruzavam ciência e ficção de uma forma que hoje, embora parecendo mirabolante, teceu toda uma teia de histórias que se fixaram no nosso inconsciente colectivo, sob a forma de livros que são clássicos da ficção científica. Mais tarde, o cinema adaptaria alguns – ou criaria ficções inéditas – e nem a música escapou ao encanto do quarto calhau a contar do Sol.
Galopim percorre este longo trajecto, com escalas em alguns pontos fundamentais: das teorias de que Marte seria habitado e teria flora e canais artificiais, segundo os astrónomos Giovanni Schiaparelli (1835-1910) ou Percival Lowell (1855-1916) que, com as suas hipóteses sobre Marte, dariam o tiro de partida não para avanços científicos, mas para alimentar uma série de histórias fundamentais.
Mas a ciência nunca lhe saiu do sangue e das preferências. Não ficou esquecida. “Toda a vida cresci com a ciência servida com o bife e as batatas, era parte do dia-a-dia. Além disso tinha os interesses pela literatura e pela música e agora tenho uma experiência de mais de 25 anos no jornalismo na área cultural. Os dois mundos estão muito naturalmente aqui presentes”, diz à Tabu.
Por isso, entre as habituais crónicas sobre a pop nos jornais – e outras façanhas culturais da humanidade – ou programas de rádio como os Discos Voadores (lá está, a ciência paira sempre sobre este imaginário) na Radar, Galopim regressou, em livro, a um lugar que lhe marcou a imaginação de miúdo, Marte. Apesar de a obra ter sido publicada na colecção Ciência Aberta da Gradiva, a nossa editora especializada em matérias científicas, não se espere um denso ensaio sobre a dimensão, a morfologia ou outras características do Planeta Vermelho.
Em Os Marcianos Somos Nós, Nuno Galopim fala de todas as tentativas humanas de ‘visitar’ este nosso vizinho do sistema solar. E, à falta de melhor, ou do possível, a humanidade já o colonizou, pelo menos em pensamento. “Só lá fomos através de sondas, umas que aterraram e outras que estão em órbita, mas a presença mais forte que existe do homem em Marte é através da imaginação”.
E para contar esta história do Planeta Vermelho no imaginário humano, Galopim recua até às primeiras teorias, ainda em finais do século XIX, que cruzavam ciência e ficção de uma forma que hoje, embora parecendo mirabolante, teceu toda uma teia de histórias que se fixaram no nosso inconsciente colectivo, sob a forma de livros que são clássicos da ficção científica. Mais tarde, o cinema adaptaria alguns – ou criaria ficções inéditas – e nem a música escapou ao encanto do quarto calhau a contar do Sol.
Galopim percorre este longo trajecto, com escalas em alguns pontos fundamentais: das teorias de que Marte seria habitado e teria flora e canais artificiais, segundo os astrónomos Giovanni Schiaparelli (1835-1910) ou Percival Lowell (1855-1916) que, com as suas hipóteses sobre Marte, dariam o tiro de partida não para avanços científicos, mas para alimentar uma série de histórias fundamentais.
Homenzinhos verdes e utopias
Só para dar alguns exemplos, temos no autor de Tarzan um dos pioneiros no ‘povoamento’ imaginário de Marte. Edgar Rice Burroughs ficou famoso também pelas aventuras de John Carter, um ser humano que vai para o Planeta Vermelho (ou ‘Barsoom’, o nome que os habitantes fictícios do planeta lhe atribuem) e lá encontra dois povos, um humanoide e outro com características mais estranhas para os nossos olhos. Talvez venha da série destas aventuras, iniciada com A Princess of Mars, a ideia que fazemos dos marcianos como homenzinhos verdes.
Por lá projectámos as utopias do século XX e Marte foi – e é – um dos terrenos mais férteis para ficção científica. “Enquanto foi o telescópio a forma de podermos ver Marte ou de estar mais perto dele, a imaginação contava às vezes mais do que os próprios dados passíveis de retirar de uma observação. O que seriam aquelas manchas? O que seriam as variações de cor? O que seriam as variações sazonais?”. Tanto mistério é algo muito suculento a que se pode juntar a criatividade humana.
Marte foi palco de revoluções, na altura dos bolcheviques. O filme soviético Aelita (1924), em que seres humanos e marcianos se cruzam tendo uma civilização sofisticada como cenário, os primeiros ajudam os segundos a derrubar tiranias e a estabelecer governos populares.
Mas a ideia da existência de marcianos nas histórias cairia por terra (salvo seja) quando a sonda Mariner revelou imagens mais nítidas do nosso vizinho, em 1965. A partir daí, nota Galopim, teve de haver um reset na ficção científica. Marte passa a estar povoado, sim, mas por seres humanos que para lá vão. Todos os gigantes da ficção científica passaram por lá, ou trouxeram-nos até nós, com grande efeito, como em A Guerra dos Mundos (1898), de H.G. Wells, sobre uma invasão marciana à Grã-Bretanha.
O livro seria também inaugural, tendo sido adaptado à rádio e transposta para os EUA, como se fosse um directo, em 1938, dirigida e narrada por Orson Welles. Seria ainda adaptado ao cinema mais do que uma vez, a última das quais em 2005, pela mão de Spielberg.
Nem só de Marte viveu a ficção científica. No entanto, o planeta, ainda hoje, é palco privilegiado de ficção e até de debate. A Galopim não escapou uma tendência da actualidade, a de pensar se uma futura missão tripulada e eventual estabelecimento humano por lá nos dá o direito de transformar o planeta segundo as nossas necessidades.
Antes disso, Marte foi celebrado também na música. Aqui não podia faltar David Bowie. Não só ‘Life on Mars’, de 1971, é um dos grandes feitos musicais do britânico, como a banda que seguia a sua persona dos anos 70, Ziggy Stardust, se chamava Spiders from Mars…
Só para dar alguns exemplos, temos no autor de Tarzan um dos pioneiros no ‘povoamento’ imaginário de Marte. Edgar Rice Burroughs ficou famoso também pelas aventuras de John Carter, um ser humano que vai para o Planeta Vermelho (ou ‘Barsoom’, o nome que os habitantes fictícios do planeta lhe atribuem) e lá encontra dois povos, um humanoide e outro com características mais estranhas para os nossos olhos. Talvez venha da série destas aventuras, iniciada com A Princess of Mars, a ideia que fazemos dos marcianos como homenzinhos verdes.
Por lá projectámos as utopias do século XX e Marte foi – e é – um dos terrenos mais férteis para ficção científica. “Enquanto foi o telescópio a forma de podermos ver Marte ou de estar mais perto dele, a imaginação contava às vezes mais do que os próprios dados passíveis de retirar de uma observação. O que seriam aquelas manchas? O que seriam as variações de cor? O que seriam as variações sazonais?”. Tanto mistério é algo muito suculento a que se pode juntar a criatividade humana.
Marte foi palco de revoluções, na altura dos bolcheviques. O filme soviético Aelita (1924), em que seres humanos e marcianos se cruzam tendo uma civilização sofisticada como cenário, os primeiros ajudam os segundos a derrubar tiranias e a estabelecer governos populares.
Mas a ideia da existência de marcianos nas histórias cairia por terra (salvo seja) quando a sonda Mariner revelou imagens mais nítidas do nosso vizinho, em 1965. A partir daí, nota Galopim, teve de haver um reset na ficção científica. Marte passa a estar povoado, sim, mas por seres humanos que para lá vão. Todos os gigantes da ficção científica passaram por lá, ou trouxeram-nos até nós, com grande efeito, como em A Guerra dos Mundos (1898), de H.G. Wells, sobre uma invasão marciana à Grã-Bretanha.
O livro seria também inaugural, tendo sido adaptado à rádio e transposta para os EUA, como se fosse um directo, em 1938, dirigida e narrada por Orson Welles. Seria ainda adaptado ao cinema mais do que uma vez, a última das quais em 2005, pela mão de Spielberg.
Nem só de Marte viveu a ficção científica. No entanto, o planeta, ainda hoje, é palco privilegiado de ficção e até de debate. A Galopim não escapou uma tendência da actualidade, a de pensar se uma futura missão tripulada e eventual estabelecimento humano por lá nos dá o direito de transformar o planeta segundo as nossas necessidades.
Antes disso, Marte foi celebrado também na música. Aqui não podia faltar David Bowie. Não só ‘Life on Mars’, de 1971, é um dos grandes feitos musicais do britânico, como a banda que seguia a sua persona dos anos 70, Ziggy Stardust, se chamava Spiders from Mars…