"Os romeiros quando chegam à capela entram e dão a esmola ao santo. e depois vão dar ao diabo [representado por um dragão], que figura numa estátua debaixo da pata do cavalo de S. Miguel, para estarem de bem com ele. É uma coisa muito peculiar, que nunca vi em lado nenhum", afirmou hoje à Lusa o arcipreste de Caminha, Paulo Dias.
Padre em seis paróquias daquele concelho do Alto Minho, entre elas, Arga de São João, Arga de Cima e Arga de Baixo, Paulo Dias adiantou que "a fama da festa é tal, que não precisa de promoção".
"Deve ser das poucas romarias do país que não precisa de cartazes para se anunciar", disse, afirmando que "é preciso ir a São João d'Arga para perceber uma vivência, impossível explicar por palavras".
Se uns vão pedir ao santo cura para quistos, verrugas, ou doenças de pele, outros vão pedir para ter filhos e há ainda quem vá para procurar o penedo do casamento.
"Num dos caminhos até São João d'Arga, pelo meio da serra, há um grande penedo com uma bacia dentro. As pessoas atiram uma pedra. Se cair dentro terão um casamento feliz, se não terão que ter cuidado para não casar naquele ano, porque pode correr mal", disse o pároco, afirmando que as pessoas se "apegam" aquele santo "para as coisas inexplicáveis, pedindo a cura quer seja para males físicos, quer espirituais".
Este ano, a romaria vai decorrer em melhores condições, após as obras de beneficiação do mosteiro e de toda a envolvente, orçadas em mais de meio milhão de euros.
Ouvir concertinas ou simplesmente beber "chiripiti", uma mistura de mel, produzido naquela serra, com aguardente "para espantar o frio", são também motivos que levam milhares à romaria.
"É para aquecer, às vezes demais", gracejou o pároco.
Os enchidos, e o arroz doce, "que não há igual em mais lado nenhum", ajudam a matar a fome numa noite longa, e "muito importante para a economia da aldeia", onde "residem sobretudo idosos".
"São João d'Arga tem cerca de 70 habitantes, e apenas dois bebés. Nas aldeias vizinhas, Arga de Baixo vivem 73 habitantes, sendo que o mais novo tem 15 anos, e em Arga de Cima são 75 pessoas", adiantou.
Apesar da "invasão", o padre garantiu que a população local vive a romaria "com muita alegria, por ser visitada por tanta gente", sobretudo "muitos jovens" atraídos pelos tocadores de concertina e cantadores ao desafio.
"Não deve haver nenhuma romaria com tanta concertina por metro quadrado. As pessoas cantam e dançam também ao som das duas bandas música que tocam ao despique", frisou.
A romaria em honra de São João d'Arga começa, na sexta-feira, com a primeira missa às 11:00, seguindo-se à 17:00 uma procissão que dá início aos festejos.
No sábado realizam-se mais três eucaristias, às 07:00, 09:00 e 11:00 e uma procissão, a que se seguem piqueniques realizados na envolvente do mosteiro e animados pelas concertinas e cantadores ao desafio.
A festa termina no domingo com uma última missa em honra de santo Aginha, salteador medieval, transformado em mártir, e que virou patrono dos viajantes.
Lusa/SOL