Foi no locutório do mosteiro do Monte Estoril que há algumas semanas as Concepcionistas Franciscanas, da Ordem da Imaculada Conceição (OIC), receberam dois grupos de raparigas dos 16 aos 30 anos. Vieram conhecer esta ordem religiosa, saber como é viver em clausura e escutar os testemunhos das freiras que largaram a vida lá fora e estão há anos, décadas, fechadas num convento. O convite foi lançado na internet pela OIC, circulou nas paróquias, grupos de jovens, e as que já sentiam uma inquietação interior enviaram um email a inscrever- se.
“Como se sente a vocação. É o que querem saber. Mas também coisas práticas: se a família nos pode visitar, quando podemos sair”, conta a Irmã Maria dos Prazeres, acrescentando: “A imagem que as pessoas têm é que vimos para o convento porque tivemos um desgosto de amor”. “Ou que somos umas tristes”, apressa-se a corrigir a Irmã Margarida, para logo rematar: “Depois chocam-se é com a nossa alegria!”.
Estes dias abertos do convento são uma forma de recrutar vocações e resultam da maior abertura das ordens religiosas. Estes dois encontros surgiram após a curiosidade despertada numa vigília de oração que no Natal encheu a igreja do mosteiro de jovens. “Quiseram vir com os seus grupos. Foram levando a notícia e cresceu a curiosidade”.
Os frutos destes encontros são trabalhados ao longo do tempo. Uma rapariga que aqui esteve no Verão já escreveu às irmãs, dizendo que o encontro “tinha sido a confirmação de que era chamada”. Se vai entrar ou não? “Isso não sei. Não puxamos para aqui ninguém. Mas podemos ir acompanhando o caminho que fazem lá fora por carta, email, telefone”, afirma a Irmã Inês.
Na hora de admitir alguém na comunidade é preciso cautela e aferir a idoneidade e motivação da candidata. “Há gente que vem aqui bater à porta porque tem depressões, problemas de saúde psíquica”. Antes de darem o passo, são aconselhadas a fazer umas semanas de experiência no convento.
A vida comunitária é exigente: acordar às 6h15, passar cinco horas na capela, estar em permanente oração. “Nem devemos falar umas com as outras quando estamos nos trabalhos domésticos, a trabalhar, para estarmos em intimidade com Deus”, explica uma irmã. As saídas são excepcionais: para formação, ir ao médico ou votar.
Já no convento e até fazerem os votos perpétuos – vários anos após a entrada – as religiosas são avaliadas pelas colegas. “Se anda triste, não dorme bem, se não se sabe relacionar com as irmãs, começamos a torcer o nariz”. Algumas são “despedidas” nessa fase do noviciado “por estarem descentradas do essencial”. Depois de fazerem os votos definitivos, é muito raro abandonarem a ordem. “Em 50 anos de convento nunca conheci nenhuma”, diz a Irmã Inês.