Nas últimas semanas, tem sido cada vez maior o número de toxicodependentes que saltam o pequeno muro de uma nova estrutura arquitectónica e em grupo injectam-se nas ruínas do ‘prédio da Oliva’ (assim conhecido por ostentar ainda hoje um grande anúncio, feito de azulejos coloridos, da conhecida marca de máquinas de costura). O local, também famoso por ter por ali prostitutas que convidam homens à saída da estação de São Bento, é assim um antro de marginalidade, onde de forma cúmplice convivem várias ‘tribos’.
A situação piorou com o ‘grupo da droga’, homens e mulheres que geralmente acabam de comprar drogas duras (heroína ou cocaína) no Bairro da Sé, a poucas dezenas de metros. Face às investidas da Divisão de Investigação Criminal da PSP do Porto, deixou de ser ‘aconselhável’ os toxicómanos injectarem-se no próprio Bairro do Sé. Nas ruínas do prédio da Oliva, em frente ao acesso à estação do metro do Porto, injectam-se ou “fazem o caldo” da droga, perante a indiferença de quem passa por um dos locais mais movimentados da Baixa do Porto e um local de eleição para os turistas.
Segundo o SOL constatou no local ao longo dos últimos dias, as ruínas são usadas de manhã à noite, existindo nas traseiras da estrutura metálica, seringas, sangue e vestígios do consumo de droga. Em termos de saúde pública constitui uma ameaça e situa-se num local circundado por confeitarias e mercearias. Para disfarçar, muitos toxicómanos entram por baixo da Avenida da Ponte, pelo Metro do Porto, aproximando-se assim do local, para não chamar a atenção. Mas outros, já em ressaca, atravessam a rua, desesperados, indiferentes aos carros.
Câmara do Porto atenta
A Câmara Municipal do Porto, atenta à degradação da zona, instalou recentemente uma estrutura de aço verde clara, integrada no projecto Locomotiva, que durou intensamente durante todo o primeiro semestre deste ano. A ideia da autarquia foi embelezar, de uma forma diferente, aquele espaço. Na placa da inauguração destacava-se que “a excepção provoca, a disrupção desafia, a conversa inicia-se entre a cidade e a estrutura”. Segundo a edilidade portuense, desse modo “a metamorfose desperta-se”. A equipa criativa, da FAHR 021.3, criou assim “uma malha metálica, desenvolvida digitalmente”, a fim de “despertar o olhar e a curiosidade através da sua forma acidentada”. Para os autores, “a estrutura ergue-se na ruína, dando-lhe vida e devolvendo-lhe volumetria”.
A ideia da Câmara Municipal do Porto foi “dignificar um local abandonado, tanto que o olhar não se consiga desviar”. Esta estrutura é construída em perfil de aço e pintada à cor do óxido de cobre, pesando ao todo cerca de seis toneladas, com 28 metros de largura e 12 metros de altura. Mas não é suficiente para esconder a miséria da toxicodependência.