Presidente do Sudão do Sul assina acordo de paz exprimindo ‘sérias reservas’

O presidente sul-sudanês, Salva Kiir, assinou hoje, exprimindo “sérias reservas” sobre várias cláusulas, um acordo de paz já ratificado pelos rebeldes, visando acabar com 20 meses de guerra civil no Sudão do Sul, constatou um jornalista da AFP. 

"A paz que assinamos hoje contém tantas coisas que devemos rejeitar (…) Ignorar tais reservas não seria no interesse de uma paz justa e duradoura", declarou Kiir, antes de assinar o documento perante dirigentes da região.

Criticando "cláusulas prejudiciais" do acordo, Kiir entregou aos mediadores e aos dirigentes da região um documento de 12 páginas sobre as reservas do seu governo. Não precisou os pontos em causa, mas assegurou que seriam divulgados.

Segundo responsáveis sul-sudaneses, a desmilitarização de Juba ou a larga representação acordada aos rebeldes no quadro da partilha do poder local no estado petrolífero do Alto Nilo colocam problemas.

Este acordo "não é nem a Bíblia, nem o Corão, porque é que não poderá ser reanalisado", questionou Kiir. "Deem-nos tempo para ver como podemos corrigir estas coisas", adiantou, embora os mediadores tenham afirmado que o acordo é definitivo e não alterável.

O "Acordo de Resolução do conflito no Sudão do Sul" foi assinado a 17 de agosto em Adis Abeba pelo antigo vice-presidente Riek Machar, chefe dos rebeldes que enfrentam as forças governamentais desde dezembro de 2013. Kiir recusou assinar o acordo na mesma altura e pediu 15 dias para "consultas".

O chefe dos negociadores da parte governamental sul-sudanesa, o ministro da Informação, Michael Makuei, qualificou o acordo de "capitulação inaceitável".

Kiir criticou ainda "as mensagens de intimidação" que recebeu, numa referência às ameaças de sanções evocadas pela comunidade internacional.

O Sudão do Sul, o mais jovem Estado do mundo, proclamou a sua independência em julho de 2011 após décadas de conflito contra Cartum. Voltou à guerra em dezembro de 2013 com combates no seio do exército sul-sudanês, minado por conflitos político-étnicos alimentados pela rivalidade entre Kiir e Machar à frente do regime.

O conflito, marcado por massacres e atrocidades, causou dezenas de milhares de mortos e 2,2 milhões de deslocados. As demoradas negociações em Adis Abeba tinham resultado até agora em vários cessar-fogos sempre desrespeitados.

Lusa/SOL