Sexismo ou igualdade?

O conflito entre José Mourinho e Eva Carneiro foi explorado à exaustão pela comunicação social como um caso de sexismo. Se bem percebi, a médica do Chelsea entrou em campo após uma indicação do árbitro para prestar assistência a um jogador. Para começo de conversa, não sei se o árbitro autorizou ou se realmente mandou…

A despedida de Jon Stewart

O último programa de The Daily Show com Jon Stewart foi divertido e comovente. Cheguei ao fim com uma lágrima ao canto do olho, a gostar de ouvir Bruce Springsteen só por ter sido uma escolha do apresentador. Jon Stewart esteve no ar durante 16 anos. Não foi sempre brilhante mas foi muitas vezes excepcional, com um ponto de vista original, vivo e criativo sobre os acontecimentos absurdos da política americana. Não escondia a sua tendência ideológica mas essa preferência não o cegava ao ponto de deixar de estar por cima do que comentava e que merecia a distância e a impiedade que só um comediante pode ter. Autonomia, independência, generosidade, uma extraordinária equipa e muita graça não são características que encontremos facilmente reunidas numa só pessoa. Jon Stewart vai fazer imensa falta àquela hora em que já não queremos ver os noticiários comuns. Não sei por que razão decidiu ir-se embora mas sei que quem fica a perder somos nós.

Vida maior

Uma biografia de Gore Vidal será publicada em breve nos Estados Unidos. O título é Every Time a Friend Succeeds Something Inside Me Dies e foi escrita por Jay Parini, seu amigo de longa data, e já está na minha wish list. Em breve também teremos a estreia de um documentário intitulado Best of Enemies, com os debates de Gore Vidal com William F. Buckley, político conservador e inimigo de estimação. Inimigos, rivais e gente insuportável de estimação aliás nunca lhe faltaram. Gore Vidal não suportava Truman Capote, Norman Mailer, Henry Miller, Bush pai (imagino que o filho também), Christopher Hitchens e muitos mais. O próprio Jay Parini escreveu no Guardian um texto que serve como um belo panorama dos combates com amigos e inimigos. Embora Gore Vidal tenha estado sempre por aí, a pairar nas livrarias portuguesas, nunca é demais puxar por ele. Se a sua obra é importante e vasta, a sua vida não lhe fica nada atrás. Talvez seja até maior.  

Pensar com os tentáculos

Não é fácil entender como se revela a inteligência de animais como o golfinho ou o polvo, por exemplo. Sobre este último, sabemos que tem uma inteligência prática que lhe permite construir o seu abrigo com conchas, transportando-as para esse efeito. O vídeo de um polvo fechado num frasco que consegue abrir a tampa e sair é impressionante e misterioso. Como tinha conseguido perceber que era a maneira certa de escapar dali? Descobertas recentes no genoma dos cefalópodes foram tema de conversa na secção sobre ciência, Babbage, da revista Economist. Os polvos diferem na sua classe na medida em que têm o sistema nervoso ‘espalhado’ pelo corpo. São mais inteligentes do que as lulas, por exemplo. A dada altura um dos cientistas equiparou os polvos ao mais parecido que temos na Terra a vida extraterrestre. ‘Pensam’ com os tentáculos, têm sistemas neuronais nas ventosas, por todo o corpo. Depois desta informação é difícil não me sentir uma canibal.

Os tempos mudam

Jonathan Jones, crítico de arte do Guardian, tenta explicar num artigo curioso porque é que nas fotografias antigas as pessoas não sorriem. Jones descarta a justificação consensual de que o tempo que deviam ficar quietas à frente das primeiras máquinas fotográficas promovia as caras sérias. Trata por “burros” os que pensam que as pessoas no século XIX estavam todas zangadas ou tinham depressões crónicas. Eram, pelo contrário, “pessoas mais alegres e com mais sentido de humor” do que as de hoje. O segredo da seriedade visível nos retratos fotográficos antigos segue apenas a tradição pictórica dos retratos em geral, da qual a Mona Lisa é a excepção. A conclusão é pelo menos sensata. Porém, a consequência é o exagero ridículo de glorificar a gravitas do passado e a sua inexistência nas selfies da vida. Concordo que hoje em dia sorrimos por tudo e por nada e desconfiamos de quem sai sério na fotografia. Agora a seriedade é só para os íntimos.