As vacances dos freelancers

Este é um tema que me parece inesgotável, talvez porque me é muito familiar. Talvez porque passa comigo Natais e Páscoas e aniversários, e também -não é – uma pessoa que passa connosco estas datas todas e não deseja só boas festividades por mail impessoal ou tag numa foto de gosto duvidoso no Facebook, é…

Piolhos pegadiços!

Pensando na ideia que o mundo tem da massa freelancer, que na verdade são só jovens (e atenção que a definição de ‘jovem’ se alterou desde, pelo menos, o período que compreende as últimas duas legislaturas, tendo alargado a idade legal para se chamar jovem a qualquer indivíduo entre os 18 e os 40 anos de idade) que trabalham horas infinitas por salários miseráveis apenas passíveis de serem recebidos contra a apresentação de recibos verdes, freelancer que é freelancer, tem uma vida belíssima.

E tem uma vida de lorde porquê? Porque não tem horários.

Essa coisa dos horários está muito mal cotada no que vem sendo o mercado de trabalho, porque ninguém gosta deles. Funcionário que se preze, odeia horários. Especialmente de entrada, porque o de saída, mesmo sendo às vezes pouco agradável, é uma espécie de luz ao fundo do túnel.

As pessoas que têm horários e cobiçam a vida folgada dos frelancers em termos de fidelidade aos ponteiros do relógio deviam neste preciso momento fazer uma pausa na leitura deste artigo para reflectir. Sobre muitas coisas, começando pelo privilégio que é ter o rabo sentado na areia em Agosto, ou pela imperial que tem aí à sua frente a fazer par com o pires de tremoços. Devia parar e pensar sobre o privilégio que é o que acabei de lhe interromper, o barato que lhe acabei de cortar. 

Já está?

Pode continuar.

Não ter horários está amplamente sobrevalorizado nos dias que correm, e este artigo serve para lhe abrir os olhos e para o/a fazer pensar duas vezes antes de se queixar que entra às nove da manhã no serviço.

Se pensa que os freelancers que não têm horários dormem até às duas da tarde e vão de férias quando lhes apetece, tire o cavalinho da chuva, porque a não existência de horários faz com que todas as horas, todos os dias, todos os meses e consequentemente todos os anos, sejam horas, dias, meses e anos de trabalho, sem direito a tempo regulamentar de férias, sem direito a calendários, escalas ou coisas dessas que os que têm horários costumam achar quadradão e meio seca, porque fixe fixe é viver a vida ao sabor da espuma dos dias.

Freelancer que é freelancer nunca tem férias, porque das duas uma: ou nunca tira férias porque nunca sabe quando é que vai ter mais trabalho e fica à espera, ou até vai para qualquer lado, mas sempre quando tem dinheiro suficiente para regressar caso seja necessário e caso o computador que levou consigo, mais o disco externo e a internet móvel, não sejam suficientes para satisfazer o cliente que se lembra de surgir.

As férias de um freelancer equivalem ao banco de um médico.

Por isso, e porque é Verão e porque embora os Facebooks dos seus amigos e conhecidos freelancers de profissão estejam pejados de fotos da praia desde Abril, não se esqueça que assim muitos dias seguidos, para um freelancer, é sinal de pouco trabalho.

joanabarrios.com