Paulo Rosa, analista do Banco Carregosa, considera que a volatilidade dos mercados bolsistas na China, "que tem vindo a retirar valor às empresas chinesas, provavelmente vai continuar nos próximos meses", o que fará com que "as empresas portuguesas com participações chinesas possam sofrer o abalo".
"As empresas chinesas estão a perder valor. Por isso, não me espantaria que vendessem ou diminuíssem as suas participações nas empresas portuguesas para fazer face às perdas na economia chinesa", declarou o analista do Banco Carregosa.
Para Filipe Garcia, da IMF — Informação de Mercados Financeiros, considera "haver algum exagero na análise que se está a fazer à desaceleração da China e à queda da bolsa", rejeitando uma alteração significativa dos investimentos chineses em Portugal.
"A desaceleração da economia já vem dando sinais há alguns anos e a estratégia de a China investir no estrangeiro de forma generalizada parece-me ter precisamente o objetivo de ajudar a lidar com as flutuações internas que os próprios chineses anteviam", realçou.
Filipe Garcia defende que "só será de esperar uma alteração significativa dos investimentos chineses em Portugal se ocorresse uma crise financeira – e não apenas bolsista – na China, que levasse à necessidade de desalavancagem dos grupos chineses que fizeram as aquisições" em Portugal.
Também Steven Santos, analista do Banco BIG, defende que as empresas da China que investiram em participações nas empresas portuguesas têm uma perspetiva de longo prazo e por isso escolheram empresas maduras que remuneram os acionistas.
"Não acreditamos que esta crise na China possa levar a uma saída", sentencia, mas admite que "a curto e a médio prazo possa levar a uma menor capacidade de investimento, o que pode afetar os planos".
O principal índice bolsista da China caiu mais de 12% em agosto, registando assim a maior queda acumulada em dois meses de 2008.
O investimento chinês está presente em Portugal em vários setores, como imobiliário, turismo, restauração ou agroalimentar.
Nas grandes empresas, a entrada da China Three Gorges na EDP marcou o arranque do investimento chinês, com a aquisição no final de 2011 de 21,35% do capital da elétrica nacional.
No ano seguinte foi a vez da State Grid comprar 25% do capital da REN, no âmbito do processo de privatização da gestora das redes energéticas.
Já o consórcio chinês Fosun detém a Fidelidade – e através desta 5% na REN -, a Luz Saúde (antiga Espírito Santo Saúde) e é concorrente à compra do Novo Banco, depois de terem falhado as negociações com os chineses da Anbang.
O grupo chinês Haitong está prestes a concluir a aquisição do BES Investimento, até agora do Novo Banco, e fala-se também na possibilidade de os espanhóis do La Caixa venderem a sua participação no BPI a capital chinês.
A entrada de acionistas chineses de referência nas empresas portuguesas foi também acompanhada por promessas de investimentos futuro, caso da EDP em que se comprometeram a comprar parques eólicos fora de Portugal.
Lusa/SOL