‘Boas cercas fazem bons vizinhos’, justificam do outro lado. O narrador desse poema no cenário rural de Nova Inglaterra insiste na necessidade de um motivo que dê frutos, chegada a Primavera e o hábito de consertar a vedação que separa o terreno dos dois agricultores. ‘As maçãs das minhas macieiras não ameaçam comer as pinhas dos seus pinheiros’. O interlocutor duvida da inocência de um pomar, e vale-se mais uma vez do provérbio, tirado de uma cassete antiga que continuará a dar música ao longo do século, povoado de guerras entre maçãs e pinhas. ‘Boas cercas fazem bons vizinhos’, repete.
Continuar com a obra podia ser sinónimo de parar os trabalhos. De retomar a leitura de Robert Frost (1874-1963) sempre que se apresente um dilema entre vizinhos, e se acuse a falta de um narrador inconformado. E de fazer especial pausa em Mending a Wall, presença assídua em antologias e alvo regular de análises. Quem ofendo quando ergo uma fronteira de pedra?, interroga-se o dono das maçãs, que antes de qualquer conserto gostava de esclarecer se o homem que exclui não é afinal o maior dos excluídos.