Aliás, só muitos anos e reiteradas citações depois é que, finalmente, me sentei à mesa da Casa do Xisto, a tal tasca das trutas. E o que vi não tinha nada a ver com essas histórias que me enchiam a imaginação.
De facto, o restaurante é um retilíneo e moderno edifício, com uma ampla e agradável esplanada num varandim ao ar livre, inserido no cenário paradisíaco de um parque de pesca desportiva – vasto espaço natural, com diversos lagos e viveiros para criação de trutas, muitos carreiros e singelas pontes de madeira, perdido na encosta da serra da Boalhosa, na freguesia de Insalde, uma dúzia de quilómetros a nordeste da vila de Paredes de Coura.
E se efetivamente quem quer pode pegar numa cana, das muitas que se encontram à disposição dos visitantes, e pescar dos lagos o peixe que quiser para comer grelhado no restaurante ou levar para casa, a oferta gastronómica está longe de se esgotar na truta grelhada. Há ainda a de escabeche, pequena, deliciosa, que se come inteira entre dois nacos de pão, e a assada, método reservado às maiores, que aguentam bem o forno. Mas há também as carnes, com destaque para os rojões ou o cachaço do porco bísaro, de produção própria, ou para o javali, que cresce pelas serranias próximas, acompanhados pelo já célebre arroz das matanças, uma variedade local da cabidela. Aliás, é o gosto manifesto pela cozinha regional, que apreciam como ninguém, que mais encanta nas conversas com Cila e Décio Guerreiro, o simpático casal proprietário do lugar. E o seu último orgulho é precisamente a recuperação de um velho prato minhoto, do tempo da guerra, quando a escassez de arroz no mercado o fizera ser substituído por milho partido, e que entretanto deixou de ser feito e ficou esquecido – o estrolho. Orgulho tanto maior quanto a receita se revelou um êxito e passou a constar da carta diária do restaurante. E eu posso atestar que é, efetivamente, uma deliciosa surpresa. Como tudo o resto na excelente Cada do Xisto…