O último dia de mercado é, por vezes, pródigo em surpresas e em contratações sonantes ou algo inesperadas, o que, na minha opinião, no nosso país, não sucedeu.
Se Benfica e Sporting não apresentaram novidades de última hora, a grande verdade é que também não perderam nenhum jogador relevante, nomeadamente Nico Gaitán ou Carrillo, enquanto, o FC Porto viu chegar dois jogadores até aqui pouco conhecidos. Corona, proveniente do Twente, custou cerca 10,5 milhões, enquanto Layún, que chega por empréstimo do Watford, mas com opção de compra por seis milhões, não são jogadores de renome mundial.
Todavia, nesta época, o FC Porto bateu recordes de receita com vendas de jogadores, tendo chegado aos 121 milhões de euros, através da venda das maiores jóias da coroa: Jackson Martínez, Danilo e Alex Sandro renderam mais 90 milhões de euros,.
Ora, esses 121 milhões de euros faziam do FC Porto o clube que mais dinheiro tinha arrecadado com vendas na segunda-feira à noite. No entanto, o facto do mercado de Inglaterra só ter fechado no dia 1 de setembro, pelas 1800h, mudou essa liderança particular.
Tudo isto porque Anthony Martial trocou o Mónaco pelo Manchester United a troco de 50 milhões de euros (e que poderão ir até aos 80 milhões de euros) e fez do clube francês o que mais enriqueceu com o mercado de transferências. Tudo junto, e segundo os dados do Transfermarkt, o Mónaco arrecadou 160 milhões.
Para além de Mónaco e FC Porto, destaque para o At. Madrid e para o Manchester United, que são os outros clubes que ultrapassaram os 100 milhões de euros com vendas de jogadores.
Muitas foram as movimentações, mas o maior destaque foi a transferência falhada do guarda-redes De Gea do Manchester United para o Real Madrid, por alegada falha na entrega da documentação a tempo, o que constitui a gaffe desportiva do ano, de um amadorismo preocupante.
No âmbito das Big 5 Ligas europeias, sem surpresas, constatou-se que a Liga Inglesa gastou 1,47 mil milhões de euros e apenas recebeu 572,21 milhões o que, constitui um impensável valor recorde.
A Serie A em Itália, em sentido inverso dos anos recessivos anteriores, gastou 576,55 milhões de euros e recebeu 502,68 milhões.
Em Espanha, os clubes gastaram 572,95 milhões de euros tendo auferido 387,05 milhões e na
Alemanha os clubes da Bundesliga despenderam 411,43 milhões e receberam 477,05 milhões.
Para completar o elenco, em França os clubes gastaram neste defeso 308,55 milhões de euros mas encaixaram consideráveis 433,45 milhões.
Relativamente aos jogadores, neste verão, a transferência mais cara foi a de De Bruyne do Wolfsburgo para o Manchester City, por 74M€, de Di María do Manchester United para o PSG por 63M€, na terceira posição surge Sterling (do Liverpool para o Man. City) por 62,5M€, depois Anthony Martial do Mónaco para o Manchester United (poderá chegar aos 80M€) e por fim, neste top-5, surge Benteke (do Aston Villa para o Liverpool por 46,5M€).
Assim, nestas contratações milionárias, só na de Di Maria o clube recetor não é de nacionalidade inglesa, o que evidencia o inequívoco poderio inglês neste mercado de transferências.
Todavia, e não obstante o fecho do mercado a nível nacional, os treinadores dos clubes portugueses não podem ainda descansar, sendo certo que estão agora de mãos atadas, quanto à contratação de reforços para as suas equipas, salvo se receberem atletas desempregados e, por essa razão, absolutamente livres. Também é certo que ainda podem perder as suas melhores pérolas.
Recorde-se que ainda estão abertos os mercados milionários de Rússia e Turquia, que não devemos desconsiderar.
Face ao exposto, Portugal continua a emergir enquanto Liga de formação e valorização de jogadores, mas sem capacidade financeira para poder rivalizar com as principais ligas europeias.
Assim, tendo em conta a proximidade do início da Liga dos Campeões, onde os clubes portugueses estão devidamente representados por FC Porto e Benfica, e onde o Sporting CP também deveria estar incluído, se não fossem alguns erros de arbitragem, não podemos esquecer estes números.
Quer se queira, quer não, o fator económico condiciona o desportivo, e ainda que, no futebol, frequentemente, surjam surpresas, quem tem maior capacidade de investimento a maior parte das vezes tem maior possibilidade de poder conquistar uma prova europeia.
Nas últimas épocas, os vencedores da Liga dos Campeões são de uma das referidas Big 5 ligas europeias.
Continuo a crer que os clubes portugueses fazem por vezes pequenos milagres, que apenas nós não descortinamos.
*Docente de Direito do Desporto na Universidade Lusíada de Lisboa