Eles são obcecados nas suas convicções. Proferem dogmas assertivos, que todo o mundo tem de seguir, com a facilidade com que eu escrevo uma lista de compras. São intransponíveis nas suas crenças e não desviam o pensamento um único grau para nenhum lado.
Defendem o seu território com mais garra do que defendem a própria mãe das mãos de um bandido. A pátria é sagrada e ninguém e qualquer estranho que pise aquele solo não está a visitar, está a invadir.
Não lhes digam nada que choque com a cultura deles, não ousem apontar algo errado no seu comportamento. São perigosos, violentos, sem escrúpulos. Quem se atravessar, cai.
Estão dispostos a tudo pelas suas crenças. Destroem o resto do mundo se assim for preciso, para que ensinem a última lição a quem se tem recusado a aprender.
Como não ter medo desta gente? Como não ter medo de quem, não só não respeita, como está disposto a destruir outros credos, cores de pele, nacionalidades diferentes?
Sim, é preciso ter medo. Os racistas e xenófobos são demasiado perigosos para o mundo, autênticos terroristas.
O medo do que é diferente faz com que o ódio que lhes está latente venha ao de cima rapidamente, fazendo com que à mesma velocidade caia a máscara de patriotismo bacoco. Eles também têm medo. Medo de aceitar que a verdade do mundo não é necessariamente a sua. Medo do desconhecido, medo de sair da sua zona de conforto, medo de aceitar que são tão nada como todos os outros do mundo. E que nada seremos para sempre.
Quando nos deixamos levar pelo medo irracional, tornamo-nos animais acossados, prontos a atacar seja nas redes sociais ou pelas ruas e é isso a que temos assistido nos últimos dias.
E quanto mais vejo isto, mais vergonha tenho de Portugal. O orgulho de sermos um povo de descobridores aventureiros ou corajosos emigrantes que foram e vão para o mundo todo, cai por terra hipocritamente com esta xenofobia que se tem visto.
Se calhar, sou eu que estou mal. Se calhar, todos os patriotas que se têm manifestado vão todas as noites distribuir alimentos pelos nossos sem-abrigo, compram livros e filmes de autores portugueses e nunca sequer tocaram num kebab (antes passar fome!). Claro que nunca foram a uma loja de indianos comprar cerveja, nem aos chineses comprar pilhas. Nike? Adidas? Só usam Sanjo. Viajar? Vá para fora cá dentro. Aliás, o ideal era vir um terramoto que separasse fisicamente o nosso país da Europa e o isolamento deixaria de ser apenas mental. Mas assim é que vamos bem: “orgulhosamente sós”, como dizia esse orgulho nacional.