Para o debate ser ganho tinha de ser decisivo

Muito bem: vou dar de barato que em abstrato, em linguagem futebolística, António Costa ganhou o debate de ontem com Passos Coelho. Quem me convenceu foi, como disse ontem Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo especial que se lhe seguiu, a reação das próprias pessoas afectas à maioria governamental, que ou reconheceram claramente a superioridade…

Mas vale a pena ter vibrado? Na minha escassa opinião, um debate eleitoral não se ganha em apreciação futebolística, mas apenas se consegue arrastar inúmeros votos para um dos lados. E eu assisti a um bom bocado do debate, com uma quantidade de gente num jantar, e concluí que ninguém ali tinha mudado de voto: quem tencionava votar à direita, resolveu continuar com essa intenção; e os da esquerda também, nos partidos que entendiam, independentemente da qualidade da prestação dos seus candidatos.

O mesmo se passa comigo relativamente ao debate Portas-Catarina Martins, que segundo o mesmo critério de Pacheco Pereira (a reação das pessoas afectas à coligação do Governo), teria sido claramente ganho por Catarina Martins, ou então perdido por Portas. Mas alguém vota em Catarina Martins ou em Portas?

Deve ser verdade que cada vez que Passos ou Portas aparecem a falar em público a coligação governamental perde votos, a avaliar pela forma como Passos evita aparecer. Mas até admito que possa ser mais um ‘wishful thinking’ meu, já que pretendo usar as eleições como dizia Popper, não tanto para eleger alguém do meu gosto (que não sei se haverá), mas mais para procurar afastar quem não gosto: hoje Passos, nas legislativas anteriores Sócrates. Claro que vou votar Costa por isso, mas temo bem que ele se limite a ser mais competente que Passos no mesmo género de política, e não na concretização de uma verdadeira alternativa política.

Sócrates e Passos equilibram-se mais no que eu não gosto: vozes colocadas, ares apossidonados (mas estas devem ser razões para serem apoiados por uma maioria a que não pertenço), cursos esquisitos e fora de tempo em universidades que não me parecem modelos, e mordomias que não me agradam (e julgo até saírem caras aos contribuintes).

De resto, estou como Joaquim Letria, o jornalista do debate político mais célebre que houve em Portugal (entre Soares e Cunhal, em 1975, quando o líder comunista atirou com irritante ironia ao  socialista os “olhe que não, doutor, olhe que não, doutor”, mas não conseguiu sair da posição em que o colocava o seu entusiasmo pelo pior do PREC): acho que os debates eleitorais são importantes, devem existir muitos nos países civilizados, mas parecem-me tão pouco decisivos que não me apetecia ver este. E porque terão os jornais entrado na euforia das TVs (essas compreende-se, para conseguirem audiências), sobre o debate?

Que eu saiba, só houve 2 debates eleitorais decisivos nas TVs, e foram fora de Portugal: em 1960, entre Kennedy e Nixon; e em 1981, entre Miterrand e Giscard.

Este não me parece que tenha sequer tido a graça do espetáculo do de 1975, entre Soares e Cunhal.