Pastéis de bacalhau. Uma maravilha da gastronomia nacional

Figurou entre os 21 finalistas do concurso para a designação das 7 Maravilhas da gastronomia portuguesa, mas já não apareceu na última escolha (necessariamente muito concentrada).

A base da receita é a mesma (tirando variações, como se é frito em azeite ou óleo, ou se o bacalhau se desfia num pano torcido ou num almofariz): puré de batata, cebola e salsa picadas, bacalhau cozido e desfiado limpo, tudo amassado num bolo (moldado a colheradas) ligado com leite e gemas de ovos, e frito.

Há quem garanta que apareceram primeiro no Norte, onde se chamam bolinhos de bacalhau. Parece atestado que já no século XIX os romeiros minhotos em dias de festa o consumiam. E a própria Maria de Lourdes Modesto apresenta a receita como sendo originária de Entre Douro e Minho.

Devo dizer que também tenho comido alguns dos melhores lá por cima. E vou só referir uns que me apareceram como bendito couvert na Casa Aleixo, do Porto (junto à estação de Campanhã). Há coisas, como o arroz e os bolinhos de bacalhau, que os nortenhos fazem como ninguém.

Claro que também há bons pastéis de bacalhau pelo sul, e por todo o lado. Desde as casas de cada um ao mítico restaurante Gambrinus.

Mas temos de admitir que também são apreciados noutros países de dieta mediterrânica europeia, como Espanha, França (onde se servem picantes) ou Itália – num género mais apataniscado. Mas descubram-me um só francês, espanhol ou italiano que tenha andado e comido em Portugal, e não fale fascinado do nosso bacalhau (por isso não compreendo esta moda dos nossos cozinheiros que se julgam originais mas adoram imitar o que fazem os seus companheiros de fora, de andarem de amores com o bacalhau fresco, quando o seco em Portugal é que fascina toda a gente, e nos distingue realmente).

Cá temos o nosso gosto português por bacalhau, e as nossas centenas de receitas para o levar à mesa. O pastel ou bolinho de bacalhau é apenas uma delas. Diz-se (tirei-o de Virgílio Gomes) que este se multiplicou muito, nos finais do século  XVIII, a partir do reinado de D. Maria I (1777-1816), quando esta incentivou por cá o cultivo da batata (trazida do chamado novo Mundo, ou Américas). Nem por acaso, uma das primeiras receitas do pastel apareceu num livro do visconde de Vilarinho de São Romão, filho de uma das maiores produtoras de batata de Portugal.

E talvez os batatais brasileiros expliquem a popularidade deste pastel pelo Brasil (onde está comprovada a sua proliferação nos botequins da boémia do Rio de Janeiro, desde o princípio do século XX). Hoje, por lá, ainda muito apreciados, fazem-se sobretudo nos restaurantes portugueses.

Prato considerado popular e modesto, anda em Portugal por quase todas as bocas e povoa todas as mesas – desde as tascas mais baratas aos restaurantes de maior luxo, além das nossas casas. E já se fazem até semanas do Pastel de Bacalhau (como aconteceu em Março último, em Cascais).

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