EUA ou RU: Dois esquerdismos saxónicos

Jeremy Corbyn, um velho (afinal com simples 66 anos) trabalhista agarrado à ala realmente social-democrata, ou socialista, lá ganhou as eleições para a liderança do Partido Trabalhista inglês. E vejo por aí toda a gente muito maçada, com este regresso a valores antigos.

Pela minha parte fiquei satisfeito. Não por pensar como ele (nalgumas coisas talvez até pense), mas sobretudo por apreciar muito a existência de alternativas claras.

Devo dizer que não gostei da forma como Blair, Schroder ou Sócrates quiseram limitar-se a uma política económica e social liberal (disputando apenas à Direita uma maior competência na aplicação dessa política, e ficando muitas vezes aquém nas medidas sociais), fingindo uma atitude mais de esquerda em medidas fraturantes que tinham feito as delícias dos nazis, e procurando para si próprios (pelo menos depois dos tempos de Governo) uma glória económica egoísta e tão liberal como a pública. E, embora sem pretender excessos de coerência de ninguém (já sei que a coerência excessiva traz anormalidades e faltas de flexibilidade), também não alinho entre os que acham mal o esquerdista saxónico britânico, mas já acalentam muito o americano, Bernie Sanders, por acharem que ele pode dificultar a esfuziante candidatura presidencial de Hillary Clinton.

De resto, acho graça lembrar que os gregos antigos, os que inventaram a democracia, não queriam o voto universal, por temerem que as classes mais baixas e numerosas assim impusessem políticas prejudiciais às minorias. Como tudo se passa de outra maneira, e são afinal as classes altas as menos abertas às minorias.

Por outro lado, vale a pena relembrar um filme-documentário recente, de um realizador obviamente da esquerda britânica, Ken Loach, chamado O Espírito de 45, em que se mostra como depois da II Guerra, com a Europa ainda de rastos, governos chamados socialistas ou sociais-democratas (acusados de stalinistas pela direita de então) enriqueceram os países do Norte da Europa, com as suas nacionalizações controladas e as políticas de sociais (desde a saúde ao ensino, passando pela habitação). Quando a Europa estava realmente sem dinheiro, e não com a sua atual riqueza. De resto, mesmo os economistas mais liberais reconhecem hoje que a riqueza se concentra num número cada vez mais pequeno de pessoas. E enquanto a direita gere isso alegremente, pretendendo apenas favorecer este caminho (deixando por exemplo os empresários sem pagarem impostos, que são carregados apenas aos trabalhadores, por apreciarem uma concorrência baseada em baixos salários), a esquerda e a democracia-cristã têm pelo menos a obrigação de imporem uma redistribuição da riqueza.

Enfim, fico satisfeito por o Trabalhismo inglês voltar a ser alternativa real. E lembro a quem o qualifica de extremista que as sociais-democracias europeias distinguiram-se sempre por respeitar a alternância eleitoral, e saberem retirar-se. O que nunca aconteceu com Staline, ou os realmente extremistas.

E já agora, embora espere ver este Governo varrido do poder, também espero que o liberalismo que pôs a Europa, o Mundo e mais ainda Portugal em crise nos últimos anos – pelos vistos com tão grande apoio eleitoral – não deixe de existir. Se possível na Oposição.