Susana Ribeiro, uma das portuguesas com melhor palmarés amador de sempre, decidiu iniciar uma carreira profissional.
A sua estreia com esse novo estatuto está marcada para o Solverde Campeonato Nacional, que a PGA de Portugal e a Federação Portuguesa de Golfe irão organizar no Oporto Golf Club, em Espinho, de 17 a 19 de setembro, com 12.500 euros de prémios monetários.
O 5º torneio do Circuito Liberty Seguros/FPG, em Troia, no Domingo passado, foi o seu último título enquanto amadora. O seu discurso de campeã na cerimónia de entrega de prémios foi memorável e muito aplaudido.
«É um momento em que as emoções estão à flor da pele, por ser, no fundo, uma despedida. Queria terminar a minha carreira amadora com uma vitória. Foi sem dúvida um discurso emotivo. A dada altura, tive de terminar os agradecimentos, porque já estava quase a chorar, até porque o João Coutinho (diretor-técnico nacional) começou agradecer a minha dedicação enquanto jogadora. É bom sentir que as pessoas valorizam isso. É difícil traduzir tudo o que sinto neste momento por palavras, mas queria agradecer tudo o que a Federação Portuguesa de Golfe fez por mim durante todos estes anos. Toda a equipa da FPG, para além de contar com excelentes profissionais, deixou-me, sobretudo, bons amigos», disse Susana Ribeiro, de 25 anos.
Atrás de si deixa um registo impressionante de 3 vitórias no Campeonato Nacional Amador Peugeot, 5 no Campeonato Nacional de Clubes Solverde (3 pelo Estela Golf e 2 ao serviço do Club de Golf de Miramar) e 2 na Taça FPG/BPI, para referir apenas os Majors nacionais amadores. Foi ainda a nº1 do Ranking Nacional BPI/FPG durante quatro anos seguidos, entre 2001 e 2014.
É a única a ter ganho o Campeonato Nacional Amador Peugeot em três anos consecutivos (2013, 2014 e 2015).
No estrangeiro, competiu em Campeonatos do Mundo (Espírito Santo Trophy), da Europa, e as suas melhores classificações foram o 6º lugar no Campeonato Nacional de Stroke Play da Argentina em 2015, e o 15º lugar nos Campeonatos Internacionais Amadores da República Checa em 2015 e de Espanha em 2014.
A portuense de 25 anos, sócia do Club de Golf de Miramar (em Vila Nova de Gaia), residente em Belas, também tem competido esporadicamente em torneios profissionais do PGA Portugal Tour e no Açores Ladies Open do Ladies European Tour Access Series (LETAS).
O presidente da PGA de Portugal, José Correia, considerou que «a Susana é bem-vinda ao grupo dos profissionais portugueses. Precisamos de mais jogadoras e ela passará a jogar os torneios do nosso circuito, a começar pelo Solverde Campeonato Nacional PGA, onde também estará a Mónia Bernardo».
«A Susana disse-me que tem alguns convites garantidos para jogar no LETAS (a segunda divisão europeia) e existe a hipótese de podermos abrir o Algarve Pro Golf Tour a jogadoras. Vamos pensar nisso, porque seria uma boa ajuda para ela neste seu início de carreira», acrescentou José Correia, que é também um dos promotores do Algarve Pro Golf Tour, que decorre entre novembro e março.
Antes de passar a profissional e de enviar a necessária comunicação por escrito à FPG, a tricampeã nacional amadora teve o gesto bonito de falar pessoalmente com o presidente e o secretário-geral da FPG, respetivamente, Manuel Agrellos e Miguel Franco de Sousa, para além de anteriormente se ter aconselhado com o diretor-técnico nacional, João Coutinho.
«O presidente da FPG disse-me que era importante porque precisamos de mais raparigas a passarem a profissionais», contou Susana Ribeiro, sobretudo quando estamos a um ano do golfe regressar aos Jogos Olímpicos.
Não há uma grande tradição das melhores jogadoras portuguesas optarem pelo profissionalismo. Aconteceu com Patrícia Roquette, Mónia Bernardo, Cláudia Dantas, Carla Lopes e agora Susana Ribeiro. O seu processo de decisão não foi fácil e levou muito tempo:
«Quando entrei para a faculdade, a ideia era ter uma profissão e jogar como amadora. Pensava que o profissionalismo não era para mim. Concluí a licenciatura em Gestão e depois fiz o mestrado em Marketing e Gestão de Desporto. Percebi rapidamente que a gestão de empresas não seria o meu futuro. Trabalhei no Belas Clube de Campo, tanto na receção, como no apoio ao diretor de campo e apercebi-me que não era bem o que queria no golfe. Queria jogar ou dar aulas e foi nessa altura, em 2013, que decidi ser profissional. Falei com os meus pais e dei-me um prazo de dois anos para me preparar para o profissionalismo».
Embora vá tentar tornar-se na primeira portuguesa a competir regularmente no Ladies European Tour (a primeira divisão europeia), onde milita a luso-francesa Caroline Afonso (campeã nacional amadora em 2006), Susana Ribeiro tem os pés assentes na terra e está já a preparar uma carreira posterior como treinadora: «Tenho o curso de nível-1 e tenho de fazer o nível-2, porque cada nível demora dois anos, ainda é um processo longo. Creio que é em janeiro que abre o próximo nível-2. Vou continuar a dar aulas às crianças na Escola Nacional de Golfe (no Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor), até porque os torneios profissionais costumam ser durante a semana. Para o ano gostava de fazer o TPI (Titleist Performance Institute) em Espanha. É uma área em que vou continuar a investir.
Foi há cerca de um ano que Susana Ribeiro anunciou aos media portugueses, no Açores Ladies Open, que estava a pensar em tornar-se profissional em 2015. Porquê agora, em setembro?
«É uma boa altura, porque estou numa boa fase de jogo e gostava de jogar alguns torneios profissionais antes da Escola de Qualificação do Ladies European Tour em dezembro. Também quero ambientar-me um pouco, porque é uma vida completamente diferente. Já joguei um Campeonato Nacional de profissionais (em 2011) como amadora, mas é muito diferente fazê-lo como profissional. Logo a seguir jogo o Quality First Open da PGA de Portugal em Belas, e o Açores Ladies Open. Desse modo não vou a frio para Escola de Qualificação do LET.
Ninguém treina todos os dias e compete durante dez anos seguidos – os primeiros registos de resultados seus na FPG têm uma década – sem estabelecer objetivos e Susana Ribeiro tem alcançado tudo a que se propôs: «Quando era pequenina tinha o sonho de ganhar alguns torneios e consegui vencê-los todos, como o Nacional de Clubes e o Nacional Absoluto. Também queria ser nº1 nacional».
Agora, como profissional, os objetivos são outros: «Uma pessoa tem sempre sonhos e eu gostaria de conseguir jogar daqui a dois anos no Ladies European Tour e gostaria de jogar um Major».
O mais difícil será angariar apoios financeiros. José Correia, presidente da PGA de Portugal, avisa que o Portugal Golf Team «tem recursos muito limitados e até ao momento tem-se dirigido apenas para jogadores e não para jogadoras. Mas nunca se sabe. Se houver patrocínios específicos para jogadoras poderemos tentar ajudar a Susana».
No imediato, a jogadora conta com o seu salário de treinadora na Escola Nacional de Golfe e, claro, com a família: «Vai haver ajuda dos meus pais quando for a torneios. Começará por aí, mas depois espero ter alguns apoios».
No Solverde Campeonato Nacional PGA irá ganhar o seu primeiro prémio monetário e a sua grande rival será Mónia Bernardo, três vezes campeã nacional de profissionais. Susana Ribeiro poderá tornar-se na primeira a vencer no mesmo ano os dois Campeonatos Nacionais, o de amadores e o de profissionais.
O Oporto Golf Club, reconhecido internacionalmente como o terceiro clube de golfe mais antigo da Europa Continental, celebra 125 anos em 2015.
O Solverde Campeonato Nacional PGA é um dos eventos mais relevantes das celebrações da efeméride, sendo a primeira vez que esta prova se realiza nesta autêntica instituição do golfe português. Aliás, a última vez que um torneio do circuito profissional português se realizou naquele campo foi em 1969.
Por esse motivo, o Mateus Rosé PGA Pro-Am, marcado para o dia 20 de setembro, é uma oportunidade rara e exclusiva para alguns amadores jogarem ao lado e conviverem com os melhores profissionais portugueses, num ambiente de festa no Oporto Golf Club.
Artigo escrito por Hugo Ribeiro ao abrigo da parceria entre a Federação Portuguesa de Golfe com o Jornal SOL.