A acreditar no que os jornais têm noticiado, uma travessia pelo mar, nessas condições precárias que temos visto, custa a cada um entre 3 a 5 mil dólares americanos. Ora, só na Síria, a maioria da população vive com menos de 2 dólares por dia. Quantos anos de trabalho, sem mais nenhuma despesa (nem alimentação, nem doenças, nem vestuário, nem nada), precisariam, para poderem entregar-se nas mãos dos traficantes humanos que os atiram para as águas do Mediterrâneo, confiando apenas na boa vontade dos europeus que eles tanto odeiam. Para já não falar no horror que me causa o ódio que eles têm a tudo o que é europeu, e na certeza de que mesmo não sendo todos terroristas, esconderão com gosto entre si os que com eles vierem. E nem me quero lembrar (alguém por acaso se lembrará?) daquele grupo que, em pleno mar, tendo descoberto uns cristãos com eles, os afogaram por deliberada maldade. É essa gente que aí está – apesar de não pretender medir todos por igual, e insistir na razão do Papa e de Guterres ao quererem a triagem.
E claro que não serei eu a vergar-me perante o horror de uma imagem da criança morta na praia, quando sei que andam a morrer muitos mais, incluindo crianças como aquela ou mais novas, em situações piores, por causa da situação no Médio Oriente (tão propiciada pela louca guerra de Bush, em Portugal tão demasiado apoiada), mesmo sem imagens tão chocantes à vista.
Mas não há dúvida de que o pior é a falta de posição da UE, permitindo que no seu seio apareçam atitudes fascistóides como a da Hungria. E os outros, a quererem ser mais papistas do que o Papa com Merkel, mas sem sequer a saberem imitar – fazendo-lhe apenas todas as vénias de espinha vergada, como o nosso Passos Coelho (sempre pronto a obedecer, mas nem sempre percebendo como ou em quê).
E assim vai a UE, com uma Alemanha líder que não sabe liderar, e o resto de ansiosos por uma liderança qualquer que venha de algum riquinho. Será que não tendo sabido resolver o problema das crises económicas, em que também nos afogámos da pior maneira, alguma vez saberemos resolver a dos refugiados, mesmo com reuniões agora pedidas de urgência – depois da vergonha com que anteontem se quis adiar muito o problema?