Volta ao mundo em (mais ou menos) 365 dias

Joana (Marques) Alves. 24 anos. Criada em Cascais. Educada num colégio de freiras. Jornalista de profissão.

“Boa tarde Joana Alves, antes de mais desculpe a ousadia de lhe enviar assim um email sem eventual propósito. Porém, após a sua notícia sobre o homem Norueguês que já esteve em todos os países do mundo, eu comecei a receber mensagens engraçadas de vários amigos! Ao início achei que os meus amigos se estavam a meter comigo por causa do tema ser ‘Viagens’, mas não era só por isso… era porque temos o mesmo nome! E o mais curioso é que recentemente decidi despedir-me da multinacional onde trabalho há 9 anos e vou agora em Setembro dar a Volta ao Mundo! Posto todas estas coincidências não poderia deixar de lhe enviar este e-mail… a agradecer por me inspirar a quem sabe um dia, ser como este homem Norueguês! O mundo é mesmo uma ervilha e cheio de coincidências”. Foi este o e-mail enviado pela leitora. E, a partir daqui, surgiu este artigo.

Todos achamos que é necessário muito tempo e alguma ponderação para decidir dar a volta ao mundo. Mas Joana e Eduardo, o seu namorado, fizeram-no em 10 minutos. “Andava há três semanas a tentar perceber o que queria fazer com a minha vida. E de repente, num sábado à noite, ele disse-me ‘Vamos dar a volta ao mundo’ e eu respondi ‘Ok’. Na manhã seguinte, olhámos um para o outro e dissemos ‘Vamos mesmo fazer isto”, contou ao SOL.

Mas Joana já não é uma ‘novata’ nestas andanças: Já viveu em três continentes (em Portugal, no Vietname e no Chile) e já esteve em 49 países. “Eu é que estou mais atrás – só visitei 20 e tal”, confessa Eduardo, um gestor de marketing de 36 anos.

Para seguir este sonho, Eduardo pediu uma licença sem vencimento de um ano e Joana demitiu-se da multinacional onde trabalhava há nove anos. Não têm filhos. Viviam numa casa alugada e avisaram o senhorio que, a partir do dia 17 de setembro, iam andar a saltar pelos quatro cantos do mundo. “O mais chato foi tratar dos contratos da luz e da água. De resto foi tudo muito fácil”, explicou Eduardo. “Os meus pais têm lojas de decoração, por isso as mobílias foram todas para lá. Para além disso, a minha família tem uma casa de férias na Ericeira, por isso já temos para onde ir quando voltarmos (…) E não vamos gastar o nosso dinheiro todo, como é óbvio. Vamos deixar cá algum para quando regressarmos”, acrescentou Joana.

Mochila: Check; Dinheiro: Check; Mapa: Check

Eduardo e Joana vão sem um plano ‘definido’. “Temos 20 mil euros para cada um, 40 mil ao todo. O nosso tempo de viagem não é propriamente limitado – mais que um ano não pode ser, porque o Eduardo só tem uma licença de vencimento com duração de um ano, mas se quisermos voltar antes, voltamos. Se quisermos vir a Portugal no Natal, vimos”, explicou Joana.

Com esta quantia, Eduardo e Joana contam fazer uma viagem simples, mas com alguns confortos. “Já não temos 20 anos, por isso existem algumas coisas básicas que temos em consideração”, disse Joana. “ Acho que 40 000 euros não vão dar para o estilo de viagem que queremos fazer. Mas preferimos fazer aquilo que queremos em bom e ter um quarto só para nós do que estar numa camarata com mais pessoas, por exemplo, ou jantar fora de vez em quando em vez de andarmos sempre a comer massa… São pequenos luxos. Preferimos fazer menos tempo, mas em melhor”, acrescenta.

E, por incrível que pareça, não é o dinheiro (ou a falta dele) que mais preocupa o casal, mas sim a saúde. “A Joana tem muitas enxaquecas e essa é uma das razões pelas quais decidimos fazer isto. Ela já tentou tudo e nada a deixa melhor. Por isso vamos ver se isto a ajuda”, explicou Eduardo. “Tenho medo que aconteça alguma coisa que nos obrigue a regressar a correr… O que vale é que nos temos um ao outro”, acrescentou.

Para além da duração da viagem, existe uma outra incógnita: Os destinos. “Não estamos preocupados em colocar carimbos no passaporte, mas é claro que há um plano”, disse Eduardo. Mas existe um plano. “Eu deixei-o decidir tudo, mas o critério que usámos para escolher os sítios por onde iremos passar foi a pergunta ‘Que países é que gostávamos de visitar’”, conta Joana. E cada um deles tem três ‘favoritos’: Eduardo escolheu a Coreia do Norte, o Japão e a Nova Zelândia e Joana o Butão, Myanmar e a Colômbia.

A verdade é que já existe um percurso, mas tudo pode ser alterado a meio do caminho. “Saímos daqui e vamos diretos para São Petersburgo e depois Moscovo. Foi muito difícil conseguir os vistos [tanto para a Rússia, como para a China e Coreia do Norte], mas ao fim de algum tempo, lá acabámos por consegui-los”, conta Eduardo.

Depois, o casal tenciona passar pela Mongólia, China, Coreia do Norte – onde irão assistir ao 70º aniversário do Partidos dos Trabalhadores da Coreia -, Camboja, Laos, Tailândia, Butão, Myanmar, Índia, Nepal, talvez Irão, se calhar Maldivas, Filipinas, Indonésia, Malásia, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Cuba e México. “No meio desta travessia gostava de passar o ano no Quiribáti, que é o primeiro país a receber o ano novo”, confessa Eduardo.

Ainda não definiram o país onde vão terminar a viagem, mas tencionam passar pela Colômbia, Equador, Peru, Chile e Argentina. Por isso, “se calhar vai ser o Brasil”. Mas, como já foi referido, nada disto está definido. “Vamos tentar passar por sítios onde temos família e amigos. Desta forma conseguimos poupar algum dinheiro”, acrescenta.

Completar a ‘bucketlist’ dos amigos

Joana criou uma página no Facebook e um blogue para ir dando novidades e contar episódios desta grande viagem. Para além disso, ‘Travel with Joana’ serve também para as pessoas dizerem o que gostavam de fazer num determinado país e lançar o desafio a este casal.

“Os nossos amigos puxam imenso por nós e estão sempre a dizer o que temos de fazer quando chegarmos a determinado sítio. Basicamente vamos fazer a bucketlist deles. E damos atenção a todas as dicas que as pessoas nos dão através do Facebook”, revela Joana.

A verdade é que tanto um como o outro têm já pequenas coisas que gostavam de fazer. “Adorava trabalhar num McDonalds. É o maior franchising do mundo e gostava de perceber como é que funciona. Bastava uma semana a servir hambúrgueres”. Eduardo gostava de conduzir um Ferrari no Dubai, trabalhar num casino – “os meus amigos disseram para juntar as duas coisas e trabalhar como aqueles senhores que arrumam os carros daqueles que vão jogar para o casino” -, atravessar o canal do Panamá a nado e trabalhar num resort nas Maldivas. Resta saber se vão ficar por aqui… ou arranjar mais ideias.

Mas se um ano passar num instante e ainda faltar muita coisa na bucketlist , existem formas de prolongar uma volta ao mundo. “Uma delas é arranjar trabalho. A outra é encontrar organismos que deem estadia e comida gratuita em troca de alguns trabalhos. E existem imensos pelo mundo todo”, explica Joana. “Por exemplo, no Chile existe uma quinta ecológica onde podemos engarrafar azeite, apanhar fruta, atualizar o Facebook ou dinamizar o Instagram em troca de alimentação e dormida. Na Colômbia existe o mesmo regime, mas o trabalho é cuidar de crianças num orfanato”, acrescenta.

“Se a ideia for mesmo arranjar um trabalho em que se ganhe dinheiro, há coisas muito engraçadas que se podem fazer. Podemos trabalhar num cruzeiro, por exemplo, ou pesquisar na internet trabalhos temporários. Existem imensos”, diz Eduardo.

Um ‘grande teste’ à paciência e à saudade

Joana está habituada a viver longe da família, mas as saudades acabam sempre por aparecer. “Eu sou muito ligada à minha família. Tenho três irmãs e somos todos muito próximos. O que sei que vou sentir mais saudades é do bacalhau cozido do almoço de domingo”, confessa Joana. Mas há formas simples de contornar esta questão, como as novas tecnologias. “A primeira coisa que fiz foi oferecer um tablet aos meus pais, para que pudessem usar o Skype”, explica Eduardo.

“Acho que o mais difícil mesmo é saber como é que vamos aguentar um ano sempre juntos… É que vamos estar 24 horas por dia juntos. Cá sempre temos o emprego para nos distrair e os amigos. Lá somos só nós os dois”, desabafa Eduardo. Ambos têm a certeza que se vão chatear ao longo deste (mais ou menos) 365 dias, mas, para tentar prevenir isso mesmo, o casal chegou a um acordo: “Já combinámos que, quando quisermos, separamo-nos. Claro que não é muito tempo, não vamos ficar uma semana separados. Mas se houver um dia em que queremos fazer coisas diferentes, vai cada um para seu lado”, explica Eduardo.

Saudades e paciências à parte, o que interessa é a descoberta. Que comece a aventura. Boa sorte, Eduardo e Joana (Batalha) Alves!

joana.alves@sol.pt