Difícil escrever sobre a campanha eleitoral e as sondagens. Difícil escrever sobre Alexis Tsipras, complexo e fascinante personagem. Difícil escrever sobre a crise dos refugiados quando tantos têm opiniões absolutas prontas a ser desfeitas no dia a seguir. O que posso dizer que seja realmente sólido? Pouco, quase nada, talvez três coisas. A primeira é a de que o ideal europeu de Jean Monnet e de outros utópicos realistas, deixou de existir. A União Europeia é um ‘ideal’ deste tempo – apela aos sentidos e não a uma alma comum, estimula mais ao egoísmo do que à tolerância ou diversidade.
A segunda constatação passa por compreender que países como a Hungria, Polónia ou Eslováquia, resistentes aos refugiados, sofreram nas últimas décadas ocupações brutais e hostis que os tornaram nacionalistas e xenófobos.
A terceira é que a Europa ocidental deve respeitar-se a si própria na sua matriz fundadora. Temos a obrigação moral de resolver este drama humanitário. Não podemos olhar para o lado e assobiar quando milhares de pessoas, como os judeus na segunda guerra, são brutalmente vandalizadas, humilhadas, abandonadas. Porém, temos de estar preparados para que alguma coisa de terrível possa acontecer. Se um dia formos vítimas de um ataque terrorista feito por um refugiado a quem abrimos as nossas fronteiras, não poderemos recuar nas nossas convicções.
A quarta questão, soma de todas, é a de que nada é linear. Nada é aquilo que parece e tudo tem o seu verso e reverso. E, mais importante, que a liberdade individual está morta e enterrada. Tão morta e enterrada como o ideal europeu. Porque para nos protegermos, e não sacrificarmos o essencial, teremos de abdicar (em nome da segurança) da liberdade de cada um poder ter uma vida absolutamente privada.