Eis algumas hipóteses que podem ‘produzir território’:
1. Os arcos metropolitanos do litoral
O arco metropolitano do noroeste, o sistema metropolitano do centro litoral, o arco metropolitano de Lisboa e o arco metropolitano do Algarve fazem sentido no mundo transatlântico co- mo portas de entrada do novo mundo e encruzilhada de culturas e civilizações, reclamadas pelo tratado transatlântico de comércio e investimento (TTIP), pelo aprofundamento da CPLP e pela ‘promessa do mar’ na sequência do alargamento da plataforma marítima.
2. As redes de cidades médias e cidades-região
Quarenta anos depois do 25 de Abril,o país continua curvado ao seu urbanismo liliputiano. As redes de cidades pequenas e médias e a formação de cidades-região inteligentes são uma promessa de futuro que pode inspirar a nova versão do Polis XXI para vertebrar o Grande País do Interior.
3. Os pólos tecnológicos e as redes inteligentes
A sociedade do conhecimento já aí está e a cultura digital criará uma nova sociedade que terá muito pouco a ver com as fronteiras político-administrativas existentes. Para lá do país que julgamos conhecer, haverá muitos outros países prontos para desabrochar, alguns absolutamente surpreendentes.
4. As regiões administrativas ‘constitucionalmente’ consagradas
Esta hipótese continua em aberto e em linha com a tradicional divisão de fronteiras. O nível NUTS II é o território correspondente às atuais Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional. É a evolução do chamado ‘modelo coordenativo’ de administração desconcentrada para um modelo ‘politicamente representativo’ que criará no continente cinco regiões administrativas. Estamos, porém, no terreno puro das clientelas tradicionais.
5. A consagração do Estado Local via comunidades intermunicipais
Depois da falência de muitas empresas e fundações municipais e da municipalização de muitas associações de desenvolvimento local, é agora a vez de o Estado Local promover as comunidades intermunicipais. Não faltarão bons argumentos.
6. O Portugal pós-agrícola e neo-rural
A ligação virtuosa entre a cultura virtual e o mundo rural pode abrir um caminho muito prometedor à ocupação do território, trazendo para o interior do país muitas atividades e neo-rurais que serão amanhã os promotores da 2.ª ruralidade e de outras geografias territoriais inovadoras.
7. A ‘territorialização’ das políticas setoriais tradicionais
Esta é a abordagem mais conservadora das políticas públicas, uma mistura labiríntica e burocrática de programas de índole diversa onde só os mais treinados têm acesso regular (as clientelas habituais).
Finalmente, o mais provável é que a produção de território seja uma espécie de ‘cozido à portuguesa’, um mix saboroso de medidas e projetos dispersos por todo o país, criando aqui e ali novas toponímias territoriais. Ah, é verdade, para lá do cozido à portuguesa, é sempre possível ocupar o território com satélites, drones, nuvens e GPS. Boa sorte.