Frenzy

É a New York Fashion Week. 

Dá-se, mas também se leva.

Se por um lado a NYFW é a semana em que percebemos o que é que a sociedade reflete na passerelle e vice-versa e podemos aproveitar para retirar desse jogo algumas conclusões que nos permitem olhar para o nosso tempo com outros olhos. Podemos entender, pelo menos ao longo do mês das semanas de Moda que são noticiadas à escala global, que a comunicação se faz através de um dispositivo físico, não-verbal, dispositivo esse que não é mais do que roupa. 

São trapos que falam. 

São frivolidades falantes. 

São falíveis e altamente dispensáveis, para os entendidos das grandes questões. Aliás, num tempo como o de agora mesmo, com a crise dos refugiados às portas da Europa e as Legislativas às portas de Outubro, eu nem devia estar aqui a falar disto.

Entendo a Moda como uma forma de comunicação não-verbal, já o disse mil vezes e não me canso de o repetir, até porque é importante transmitir esta ideia o mais possível. 

Esta repetição do caráter essencial da Moda é uma das únicas formas de a tornar num grande tema. 

Só que às vezes a própria Moda não é sua amiga e comete erros terríveis.

Sabemos, por causa do streetstyle, que durante a NYFW, os convidados desfilam tantos coordenados como as modelos que caminham nas passerelles. 

Não é novidade nenhuma que entre os convidados das marcas e da própria organização há cada vez mais celebridades e bloggers, e que os eventos deixaram de ser apenas para compradores, clientes e imprensa. É assim mesmo e não se pode achar que se poderiam excluir as novas comunicadoras e personalidades da Moda. 

Mas em que medida é que as novas comunicadoras da Moda contribuem para o desenvolvimento da indústria, se as marcas lhes oferecem os produtos e as suas ‘reportagens’ que publicam são acríticas e o seu único foco de atenção visa sublinhar a relação do self com a marca?

Chiara Ferragni, a blogger mais poderosa e influente do mundo da Moda, com uma receita anual no seu blogue a rondar os 8M$ parece ter a receita do sucesso: acrítica, não opinativa, insondável. Veste-se, fotografa-se e mostra-se no seu blogue e redes sociais. Comunica apenas a vacuidade de uma imagem puramente estética. É o veículo mais inócuo da indústria que menos valoriza essa característica. 

Chiara conseguiu recolocar a Moda no local desconfortável de onde Karl Lagerfeld, Anna Wintour, Alexander McQueen ou Carine Roitfeld a tiraram a tanto custo, e ainda assim, é adorada. Mas porquê?

Precisamente por se manter à margem da afirmação. Precisamente por estar apenas a criar imagens bonitas com uma cara doce. Nunca ninguém quis ver ou aceitar um colete de cabedal com picos e inscrições de bandas punk como GBH até Chiara surgir há dias com um, combinado com umas botas Alexander Wang, que qualquer mãe proibiria à sua filha com fashion frenzy. 

Chiara anda por aí a banalizar pela calada o que foram as conquistas de há tão pouco tempo e não anda a parecer mal a ninguém. 

joanabarrios.com