Sondagens eleitorais dançantes

Aprendi há muito que as sondagens erram, e que se deve lê-las tentando apenas apreender tendências de voto (quando há subidas ou descidas persistentes), ou grandes coincidências.

As sondagens eleitorais que agora aparecem, não apresentam subidas e descidas persistentes. Antes pelo contrário: têm alterações diversas e aleatórias, em que um ponto não deixa de significar umas centenas de milhares de votos (e não apenas os das amostragens). Mas parecem coincidir em 2 aspectos: que a coligação governamental aparece quase sempre à frente do PS; e que uma folgada maioria prefere António Costa para primeiro-ministro.

Passos, tão agasalhado pelas sondagens, só no Minho teve um banho de multidão simpático – que por acaso coincidiu com o dia em que se soube do efeito nefasto do Novo Banco no défice, e fez os olhares virarem-se de repente, apenas do programa do PS, para a polémica ação do Executivo. De resto, os técnicos procuram mantê-lo afastado de debates e entrevistas (e já se viu que quando se entusiasma e fala a coisa dá para o torto, o que reforça a razão aos tais técnicos).

Vou imaginar que as sondagens dão certo, e o PSD-CDS ficam juntos à frente, mas a maioria quer realmente Costa em primeiro-ministro. Isto é admissível, se a esquerda, apesar da distribuição dos deputados, ficar no seu conjunto à frente da coligação governamental de direita.

Nesse caso, e se houver uma maioria de deputados de esquerda (como parece corresponder ao perfil ideológico nacional), o que farão partidos como o PCP e o BE: irão apoiar claramente Costa para primeiro-ministro, admitindo apenas votar favoravelmente um OE dele? Ou continuam a preferir serem indiferentes às soluções de governo, tornando-se desnecessários para o seu eleitorado – que provavelmente no futuro deixará de apostar neles?

Mas já vimos que este eleitorado de esquerda é muito flutuante (ou sociologicamente inteligente). Por exemplo, nas maiorias absolutas de Cavaco, estudos sociológicos indicam que contaram muitos votos habitualmente comunistas, o que se compreende (porque, quer ele tenha ou não provocado o tal ‘monstro’’, e quer se tenha enganado ou não para o futuro com a chamada ‘política do betão’, a verdade é que teve o Executivo mais progressistas do pós-25 de Abril, do ponto de vista do emprego e prestações sociais).

Por outro lado, reparando que o voto de direita tende a ser mais estratificado, estou convencido de que a coligação vai obter nestas eleições o mínimo que o PSD e o CDS são capazes de ter em eleições portuguesas. A não ser que, na minha visão um tanto elitista, não perceba nada do comportamento humano.