O que une e separa adultos e crianças? A resposta em cena no Teatro Maria Matos

O que une e separa adultos e crianças, as barreiras que se erguem entre ambos, serve de ponto de partida para o espectáculo “The Wall”, de Miguel Fragata, que se estreia no sábado no Teatro Maria Matos, em Lisboa.

À chegada à sala principal do Teatro Municipal Maria Matos, adultos e crianças são separados e instalados em cada um dos lados de um muro. Durante o espectáculo, apenas os quatro atores da peça – Joana Bárcia, João de Brito, Manuela Pedroso e Miguel Fragata – circulam entre os dois lados do palco, interpretando textos distintos para cada público.

A peça, recomendada para crianças a partir dos oito anos, foca-se nas diferenças entre ser adulto e ser criança, sobre o que ambos sentem, o que gostam, quais as dificuldades e as vantagens em cada uma destas fases da vida.

O texto de "The Wall" é de Miguel Fragata – que encena – e de Inês Barahona e antes da sua concretização, ambos fizeram pesquisa e recolha de material junto de crianças e adultos, pais, educadores e filhos. 

"O ponto de partida do espectáculo foi essa ideia de muro e a vontade de trabalhar essa distinção entre adultos e crianças. O muro é uma personagem central no espectáculo", contou Miguel Fragata à agência Lusa.

Durante o trabalho de pesquisa, feito em várias cidades, da rede de co-produtores do espectáculo, Miguel Fragata teve a confirmação constante dessa barreira entre crianças e adultos, na forma como se relacionam e entendem o que os rodeia.

Em "The Wall", adultos e crianças assistem a espectáculos diferentes. Aos primeiros, os atores vão falando sobre "a temática e a problemática" da relação pais e filhos.

Do outro lado do muro, as crianças entram num jogo com os atores – cujo objetivo é derrubar o muro – durante o qual são abordadas questões sobre obediência, crescimento, medo e frustração.

"'The wall' tem uma componente social forte, tem questões provocadores e tem sido comum que no final do espectáculo haja um diálogo" entre os espectadores, entre pais e filhos, contou.

O encenador defende a criação de espectáculos que sejam "experiências fortes e transformadoras, que possam alterar alguma coisa na dinâmica  familiar".

Miguel Fragata, nascido no Porto em 1983, tem-se dedicado à criação e encenação de espectáculos inclusivos para adultos e crianças, nos quais aborda temas estruturantes, como a morte, a separação ou as diferentes fases da vida.

"The Wall" teve estreia nacional em maio em Viseu, tendo já tido apresentações em Guimarães, Ovar e Torres Novas. Em outubro será apresentado em Montemor-o-Novo e em 2016 no Porto.

O processo de trabalho foi registado no documentário "The Wall – A pesquisa", de Maria Remédio, que também será exibido nos dois dias em que o espectáculo estiver em cena no Maria Matos, no sábado e no domingo.

Lusa/SOL