Doclisboa 2015 com mais de 200 filmes ‘arriscados e provocadores’

Mais de 200 filmes, “arriscados e provocadores”, que questionam o conceito de documentário e que tratam do presente, com um olhar no passado, serão mostrados em outubro no 13.º Doclisboa, descreveram hoje os diretores do festival.

A programação, hoje apresentada, decorrerá de 22 de outubro a 1 de novembro por vários espaços da capital, nomeadamente a Culturgest, a Cinemateca e o Cinema São Jorge. Para abrir o Doclisboa foi escolhido o filme "Bella e perduta", do realizador italiano Pietro Marcello.

Este ano, o festival terá a primeira e mais completa retrospetiva do cinema do realizador sérvio Zelimir Zilnik, de 73 anos, um autor desconhecido em Portugal, apesar da importância da obra, que acompanha o movimento do cinema documental, como sublinhou o diretor da Cinemateca, José Manuel Costa.

Zilnik, que filmou a desintegração da Jugoslávia, estará em Lisboa a propósito desta retrospetiva na Cinemateca e fará duas "masterclasses" para o público.

Outra das retrospetivas focar-se-á na relação entre terrorismo e cinema, com filmes feitos desde a década de 1960 até à atualidade, acompanhando diferentes lutas armadas, da esquerda mais radical aos grupos fascistas.

Augusto M. Seabra, curador da secção 'Riscos' do festival , sublinhou que a "história do cinema não está estagnada" e que retrospetivas como as do Doclisboa permitem um contacto mais próximo com o cinema do passado à luz da atualidade.

Dos 236 filmes selecionados, 46 são portugueses, como "A glória de fazer cinema em Portugal", de Manuel Mozos, que integra a competição internacional, "Portugal — Um dia de cada vez", de Anabela Moreira e João Canijo, e "Vila do Conde expraiada", de Miguel Clara Vasconcelos, estes dois na competição nacional.

O Doclisboa dará ainda espaço à Grécia, propondo uma dúzia de filmes feitos nos últimos 50 anos e que mostram o modo como os realizadores gregos representam o país "desde a ditadura dos coronéis até à crise democrática".

O desenho da programação sofreu algumas alterações com o desaparecimento da secção "Investigações" e com a inclusão de curtas e longas-metragens numa só competição, repartida apenas entre interncional e portuguesa.

Na secção "Cinema de Urgência", o Doclisboa associa-se ao Centro Português de Refugiados, propondo aos espectadores que façam uma "contribuição em géneros" em cada sessão de cinema a que assistirem. 

A entrada é gratuita nessas sessões, que terão, por exemplo, filmes sobre abusos policiais nos Estados Unidos e em Portugal, e uma série de filmes muito curtos feitos este ano sobre o êxodo migratório de refugiados  na Europa.

A relação entre cinema e arte, em particular a música, é abordada na secção "Heartbeat", da qual já tinham sido anunciados alguns filmes, como "Celeste", de Diogo Varela Silva, e "Porque não sou o Giacometti do século XXI", de Tiago Pereira. A programação inclui ainda a estreia internacional de "Daft Punk unchained", de Hervé Martin-Delpierre.

O festival encerrará com "El botón de nácar", filme de Patricio Guzmán que volta a confrontar os chilenos com a sua história, mas tendo como pano de fundo a relação com a natureza, em particular o mar.

O Doclisboa é organizado pela associação cultural Apordoc — Associação pelo Documentário e decorrerá no cinema São Jorge, Culturgest, Cinemateca, Cinema Ideal, Cinema City Campo Pequeno e Museu da Electricidade.

Lusa/SOL