Aldrabices de automóveis e não só

A cena passou-se na rua, ali para os lados do Chiado. Um homem bem vestido, de fato e gravata, ar desenvolto, dirigiu-se pela janela do automóvel a outro, de perfil muito parecido, sentado dentro do seu Volkswagen Golf:Meu caro amigo, disse-lhe o primeiro, o Senhor tem um carro, vejo pela matrícula que é relativamente recente,…

O homem do carro, no entanto, ignorando o cartão, que deixou ali a pairar no ar, e na mão do outro, mostrou-se agastado: O que é que o Senhor tem a ver com isso? Pessoalmente, estou muito satisfeito com o carro, e não lhe noto nenhum defeito irremediável.

Mas repare que o estão a enganar da pior maneira, insistiu o primeiro. Não é só o dizerem-lhe que este Golf polui pouco, é terem também instalado um computador de bordo com um softwere que o engana nisso da poluição.

Ó homem, não me chateie, abespinhou-se o do carro. Já lhe disse que não noto nenhum defeito, e estou até radiante com ele.

Mas não se importa de ser enganado? Admirou-se o tipo de fora.E quem lhe disse a si que eu sou enganado? O carro agrada-me, tenciono ficar com ele, e se algum dia o trocar, o mais certo é ser por um igual.

Definitivamente o Senhor gosta de ser enganado. Agora era o primeiro, o de fora, que se irritava, voltando a guardar no bolso o seu cartão.

E o do carro, já sorridente, pondo-o a trabalhar, arrancando com ele, ainda lhe atirou: veja lá não respire o que sai aí do escape, não vá fazer-lhe mal. E depois, definitivamente irónico, ainda lhe disse: você deve ser daqueles que acusa os políticos de mentirem em campanha eleitoral, e talvez nem queira votar nos que acha serem mais mentirosos.