Os meus enganos na pior campanha de sempre

A poucas horas do dia de todas as decisões, deixo algumas e breves notas finais. Em primeiro lugar, já não se aguenta a campanha eleitoral. As palavras de tanto serem ditas ameaçam esgotar-se, tudo é repetitivo, cansativo, sem originalidade ou esperança. A coligação seguiu uma linha estratégica de que não se desviou, o PS foi…

Em segundo lugar, é justo que constate um par de equívocos de análise da minha parte. Convenci-me de que o PS ganharia as eleições com facilidade, as sondagens não o mostram; no domingo logo se verá, mas não é verdade (como proclamei) que a substituição de Seguro por Costa levaria os socialistas aos ombros do país. Não sei em quem Seguro votará, eu pensaria duas ou três vezes se estivesse na sua pele. Depois, é justo reconhecer que o Bloco de Esquerda não morreu. Escrevi-o várias vezes, não tinha razão. Critiquei asperamente Catarina Martins, personagem que me surgia aos olhos como fruto de um radicalismo de extrema-esquerda contrário à lógica das grandes figuras do Bloco. Enganei-me. Catarina Martins conseguiu reerguer o BE, apesar do nascimento do Livre e do apelo do voto útil do PS.  

Uma terceira nota para o Partido Comunista. Jerónimo de Sousa está muito cansado mas é um ‘monstro’ afetivo, não há ninguém que dele não goste. A grande ironia é a constatação de que os comunistas são a única força partidária recebida nas ruas sem qualquer azedume, não deixa de ser uma expressiva, para não usar outro adjetivo, curiosidade histórica.

Finalmente, o resultado das eleições. Tudo o que ainda houver para decidir será decretado pela ditadura do voto útil. A coligação PSD-CDS precisa de uma maioria absoluta, qualquer outra vitória tornará o país ingovernável (a não ser que Marinho Pinto tenha os votos suficientes e ajude com dois ou três deputados que possam faltar). Passos Coelho conseguirá um resultado extraordinário se as pessoas oferecerem o seu voto em troca da estabilidade de que o país precisa. No entanto, poderá acontecer exatamente o inverso. Os eleitores à esquerda, com um medo amplificado pelas sondagens de que o governo de Passos e Portas seja reconduzido, entreguem no instante decisivo o seu voto a Costa, o único que pode retirar o poder ao centro-direita. Um voto útil que poderia significar uma enorme surpresa no domingo.

Já não falta muito para tirarmos outras conclusões, reconhecermos outros equívocos e virarmos a página para o muito interessante que se segue. Aconteça o que acontecer, de uma coisa estaremos certos: a realidade supera sempre em imaginação a ficção. Sejamos humildes para o reconhecer.

luis.osorio@sol.pt