Vem isto a propósito de uma fotografia que vi num jornal de um cobrador do fraque nacional, com o estatuto bem alardeado em letras grandes, numa pasta que transportava. E imagino que na atual situação de crise, uma figura destas tem muito que fazer. Mas o dito cobrador, da dita fotografia, nem se vestia de fraque, nem de nada parecido. Apresentava-se com uma casaca cinzenta, de mangas compridíssimas (que tapavam quase as mãos) e laço preto. Enfim, numa falta de dignidade que não merece qualquer pagamento ou satisfação de dívida.
Ora não há casacas assim. As casacas, segundo reza a história, apareceram no Exército inglês, como farda, e encarnadas. Foram depois adoptadas pelo Protocolo oficial e as etiquetas civis, sob forma muito rígida: pretas, com camisa engomada, e laço branco (chamam-se até ‘white tie’ por isso). Em Portugal, hoje, usa-se apenas em situações protocolarmente excepcionais, como em jantares pequenos de visitas de chefes de Estado, e é sempre formal e especificamente exigida nos convites.
Por outro lado, o fraque, também conhecido como pinguim, também costuma ser preto (embora aqui já se admita o cinzento, sobretudo por noivos, e houve uma época em que se usavam de outras cores), e não se usa com laço nenhum, mas sim gravata (cinzenta em muitos países, de qualquer cor por cá). E é um traje mais próprio para o dia, sobretudo de manhã. Seria também para o cobrador que lhe toma o nome.
Mas aparentemente, o cobrador quer ir apenas espalhafatoso e dar nas vistas. Nesse caso, talvez uma roupa de palhaço (sem ofensa nenhuma para os próprios) fosse mais adequada.
Mas não respeitar as roupas como são, e já agora os seus nomes, é deitar fora à uma o idioma e os costumes. Se o cobrador quer ser do fraque, vista-se-lhe um fraque como deve ser, nem que seja alugado numa loja de vestimentas de teatro.