"Há um movimento de contestação ao grão-mestre da GLLP que está a crescer", garante ao SOL fonte da maçonaria, explicando que a situação se agravou devido à suspensão, na semana passada, de quatro maçons, alguns com importantes cargos nas lojas e até de chefia da própria obediência no mandato do anterior grão-mestre.
A suspensão resultou, de acordo com os decretos maçónicos assinados por Júlio Meirinhos, por aqueles quatro membros terem usado dentro das lojas paramentos de um novo rito, o português, que o grão-mestre tinha proibido em Julho. "A situação está a indignar os maçons pois para muitos por detrás desta decisão está o objetivo de afastar possíveis adversários nas próximas eleições para a liderança da GLLP", diz um maçon, garantindo que os membros das várias lojas estão preocupados com o ambiente que se está a viver por poder acabar numa divisão da obediência.
O ritual da discórdia
Isto porque estão criadas duas fações internas que nos próximos tempos prometem intensificar a guerra aberta. Um dos grupos critica as atitudes do grão-mestre e está disposto a tomar medidas mais radicais; o outro apoia Júlio Meirinhos, considerando que as suas decisões estão em conformidade com as leis.
Como motivo da discórdia está aquele rito português, criado em 2014 ainda no tempo do grão-mestre anterior, José Moreno. Este rito pretendia homenagear a cultura e símbolos portugueses. Nas reuniões, evocavam-se momentos da época dos Descobrimentos, diziam-se frases de poetas, como Fernando Pessoa, e ouvia-se música portuguesa, como o fado. Alegando que este ritual não cumpria os requisitos da GLLP (o que os maçons chamam de regularidade) o grão-mestre decidiu em julho deste ano acabar com o uso destes rituais que estavam a ser praticados há um ano por três lojas – a Portugalis, a Niny Sequeira e a Marechal Teixeira Rebelo.
Agora em setembro, o mal-estar intensificou-se quando os antigos lideres daquelas três lojas decidiram enviar uma carta a Meirinhos e fazer um comunicado aos veneráveis das mais de cem lojas da GLLP a contestar a decisão. No esclarecimento, os maçons lembram que o rito português foi criado por um grão-mestre e que o próprio Meirinhos, sendo na altura vice-grão-mestre, nunca o contestou. Além disso, garantem que, em setembro de 2014, pouco tempo depois do socialista tomar posse como líder na GLLP, lhes disse numa reunião privada que apoiava o novo rito.
No documento, explicam também de forma detalhada porque não faz sentido usar-se o argumento de que o rito não respeita as regras da maçonaria regular. E revelam ainda que se disponibilizaram para alterar eventuais irregularidades do ritual. "Não há fundamento nenhum. A ideia é apenas afastar certas pessoas", acusa um maçon.
No semana passada (dia 24), pouco depois de divulgado este comunicado, o grão-mestre decidiu abrir um processo disciplinar aos autores do texto. "Além de terem feito este esclarecimento continuaram a usar paramentos do rito português durante as sessões e, por isso, foram suspensos pois é isto que está previsto", diz um membro da GLLP próximo de Júlio Meirinhos.
Mas os que contestam a decisão alegam que usaram as vestes verdes do rito português por não existirem outras disponíveis na loja maçónica que vende os aventais que os maçons colocam nas sessões secretas.
Além dos três ex-lideres daquelas lojas foi também suspenso um dos novos veneráveis: Paulo Cardoso. Este foi eleito pelos outros membros para chefe da Loja Niny Sequeira e tinha tomado posse no último mês. A suspensão deste maçon, que chegou a ser assistente do anterior grão-mestre e que muitos consideram ser um forte candidato a grão-mestre, promete aumentar a contestação. "Muitas pessoas não entendem porque foi suspenso", diz fonte maçónica, admitindo que está aberta uma "guerra de poder".
Aliás, no documento que enviaram aos ‘irmãos’ maçónicos, os três ex-lideres agora suspensos avisam que se "quebrou um ciclo de harmonia", que "acabou a comunhão de afetos" que tinham e que a obediência está no "limiar de um novo tempo".
Parlamento do GOL renovado
Também no GOL, o ambiente não é pacífico. O grão-mestre Fernando Lima não promulgou um projeto do parlamento maçónico (Grande Dieta) que pretendia dar a este órgão o total poder de decisão quanto à alienação de património. A ideia era tornar explicitamente obrigatório que qualquer iniciativa sobre o património tinha de ser antecedida de debate e autorização vinculativa da Grande Dieta. A polémica estalou depois de os líderes do GOL terem anunciado que pretendiam vender imóveis do Internato de São João, uma associação controlada pela maçonaria, para lançarem uma unidade de cuidados continuados em Chelas.
A questão vai em breve ser debatida pelos maçons e promete voltar a criar divisões. Entretanto no último fim de semana, o homem que liderou este parlamento maçónico nos últimos tempos, Vítor Marques, perdeu as eleições para Luís Moutinho, um discreto maçon de uma loja do Porto.